sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O BRASIL E A ÁFRICA


          Há alguns meses, por ocasião da visita de Barack Obama ao Brasil, divulgou-se na mídia, talvez para buscar alguma familiaridade histórica, que os EUA, teriam sido o primeiro país do mundo a reconhecer nossa independência. Não é verdade. O primeiro país a reconhecer o Brasil independente foi o Benin em 1823. Os EUA só o fizeram no ano seguinte.     Nessa época, houve ainda um movimento para que Angola fizesse parte do Brasil, o que só não aconteceu por pressões da diplomacia inglesa. Por pouco não tivemos uma província africana.
          De longe, a África é o continente mais próximo do Brasil. Temos fortes laços históricos e culturais e cerca de um terço de nossa população é constituída de afro-descendentes. Isso, por si só, justifica uma intensificação das relações entre o Brasil e os países africanos, o que só vem acontecendo de uns tempos para cá.
          Nem sempre a diplomacia brasileira se interessou em aprofundar laços com a África. Curiosamente, o período onde essa relação mais prosperou, antes de 2003, foi na ditadura militar. Possivelmente pela crise do Petróleo em 1973, desde então, o Brasil, abriu embaixadas, reconheceu o Movimento pela Libertação de Angola – MPLA, de ideologia marxista (curioso!), condenou os regimes racistas da África do Sul e Rodésia e intensificou a relação comercial com diversos países. Petrobrás e Vale passaram a atuar no campo da prospecção de petróleo e mineração e empreiteiras brasileiras realizaram diversas obras de infra-estrutura no continente. O Brasil ainda oferecia bolsas universitárias para estudantes africanos. João Figueiredo foi o primeiro presidente brasileiro a visitar a África.
          Nos governos seguintes, em parte por causa da crise da dívida e os ajustes do FMI que afetou o Brasil e mais fortemente a África, houve um esfriamento nas relações, embora com algumas exceções significativas como a participação brasileira nas missões de paz da ONU, a visita de FHC a Angola e África do Sul e a cooperação no campo do combate à AIDS.
          Mas foi a partir de 2003, já no governo Lula, que ocorre o ápice nas ligações Brasil – África. Ao tempo em que as telenovelas e os templos evangélicos brasileiros invadem o continente, Lula, em seu primeiro mandato fez quatro viagens à África. Criou dez novas embaixadas e apoiou processos de pacificação. O Brasil perdoou a dívida e concedeu crédito e assistência aos países africanos. Realizou convênios no campo educacional com a concessão de bolsas universitárias e de pós-graduação, além de cooperação científica e intercâmbio de professores.
          No momento, a ajuda do Brasil às vítimas da fome na Somália é maior do que a de qualquer país europeu. Longe ser um “desperdício de dinheiro público”, o processo de aproximação brasileira com a África, produz ganhos no campo político e econômico. Petrobrás e Vale ganham espaço. O agronegócio aos poucos descobre que a África tem terras de boa qualidade a preços irrisórios. Para se ter uma idéia da sua crescente presença, entre 2003 e 2010 as exportações brasileiras para o Sudão (de novo, o Sudão!) aumentaram de sete para 120 milhões de dólares anuais.
          A África tem um bilhão de habitantes, 20% da área do planeta e 54 países que representam 27% dos membros da ONU. Muitos deles ajudaram, com seus votos, a trazer a Olimpíada de 2016 para o Brasil.
          A importância da África no mundo é crescente. China e Índia ampliam sua presença com amplos investimentos no continente e tem proporcionado um renascimento africano. O Brasil, por sua identidade político-cultural pode ter uma participação decisiva na redescoberta da África.

Em tempo; boa parte das informações dessa resenha encontram-se no livro “A África Moderna – um continente em mudança” de Paulo G. Fagundes Visentini, Editora Leitura XXI. Instrutivo e fácil de ler pode ser comprado nas grandes livrarias ou pela Internet. É baratinho. Vale a pena!  

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