Do nosso roteiro, o Sudão talvez seja o país mais enigmático e misterioso entre todos que vamos visitar. Lugar onde antes prosperou a civilização núbia, anterior ao Egito dos Faraós e que só foi subjugada no sec. XIV pelos árabes, o Sudão é cheio de sítios históricos e, embora a conservação não seja lá essas coisas, o país é uma das minhas maiores expectativas.
Do ponto de vista político, porém, o país é um dos mais castigados da África. Os colonizadores na África, impuseram-se sempre pela força. Sua visão era meramente territorialista. Nunca respeitou-se as diferenças existentes entre os povos colonizados. Com a libertação dessas colônias, essas divergências aliadas a outras questões políticas locais e interesses estrangeiros, geraram (e ainda geram) guerras civis por todo o continente.
Com o Sudão não foi diferente. Colônia inglesa que se libertou em 1956, com uma unidade nacional artificial já que sua população do sul e do norte tem diferenças culturais e religiosas, viveu de guerra em guerra até 2005, quando o Tratado de Naivasha estabeleceu a paz com a condição de um plebiscito para a independência do sul, ocorrido recentemente. Desde esse tratado o país recebeu tropas da ONU, abrigou Bin Laden e suas milícias, foi bombardeado pelo EUA e vem sofrendo embargo econômico internacional (falaremos um pouco mais disso quando estivermos lá).
Por conta disso parece que o Sudão não faz muita questão de estrangeiros. São muitos os relatos de dificuldades na obtenção de visto para o país. O guia Lonely Planet da Africa, a bíblia dos mochileiros, faz uma longa dissertação sobre as dificuldades da obtenção desse visto. Blogs falam de pessoas esperando semanas em Nairóbi – Quênia para a sua obtenção. O escritor americano Paul Theroux, uma celebridade, que fez uma viagem com roteiro parecido ao nosso (só que em sentido inverso e com mais tempo) e que publicou em 2003 o impressionante ‘O Safári da Estrela Negra –uma viagem através da África’, ficou mais de quinze dias esperando pelo visto no Cairo. Pior foi jornalista Fábio Zanini – Blog e livro ‘Pé na África’, que foi da Etiópia ao Cairo (o taxi mais caro do mundo, segundo ele) para tentar e não conseguir o visto.
Confesso que quando me dirigi à Embaixada do Sudão em Brasília, estava tenso. O visto demoraria três dias, mas como ia de Goiânia queria conseguir no mesmo dia. Fiz uma carta contando em detalhes minha viagem que, para decepção do funcionário que me recebeu, não estava em inglês. Ofereci para traduzir, mas ele chamou um brasileiro e me dispensou dizendo que me ligaria até as 15h (eram 9 da manhã) para dar a resposta. Fui ao shopping fazer hora, mas para minha surpresa fui chamado antes de terminar o almoço. Na volta à embaixada fui recebido por um senhor muito gentil; acho que era o embaixador. Pelo menos estava num gabinete enorme. Bem no centro de sua estante tinha uma foto sua com o presidente Lula. Falou que gostava dele e, depois de me dar folhetos sobre o Sudão, me passou o telefone do seu irmão em Kartoun e também do seu filho que morou no Brasil e fala português. Gentileza maior impossível. Passou-me o passaporte devidamente ‘vistado’.
Ainda vou falar sobre as relações Brasil – países africanos, mas podemos adiantar que o Brasil tem embaixada no Sudão, programas de cooperação, investimentos em exploração mineral e agronegócio. Os brasileiros são bem vindos e o meu visto saiu em apenas 4 horas. Acho que vou registrar no Guiness. A nota triste é que a façanha custou R$160,00.
Mas ainda deu tempo de tirar o visto do Zimbabwe (mais R$100,00).
Beleza, Gerson, visto já em punho ! Eu também sempre quis visitar o Sudão .. Há lá um enorme sítio arqueológico chamado Gebel Barkal, com túmulos, templos e pirâmides do reino de Kush, ao longo do Nilo ... Deve ser muito legal !
ResponderExcluirParece que você começou já com o pé direito consegui em poucas horas o que outros levam dias ou semanas para conseguir ... Bom sinal !