quarta-feira, 21 de setembro de 2011

De Moçambique ao Zimbabwe

                                   Fronteira entre Moçambique e Zimbabwe


Eram três da manhã e o interfone tocou. O táxi estava na porta me esperando. Só deu tempo de escovar os dentes e partimos para a 'Junta'. Tudo escuro e não foi fácil achar o ônibus (vamos chamá-lo assim, porque tem quatro rodas e carrega muitos passageiros). O motorista e os passageiros que não têm grana para pagar um táxi e, por isso, chegam bem antes, estavam todos dormindo. O cobrador, único acordado já foi avisando.
  • Tem bagagem? 200 mentecais.
Um que chegou atrás de mim com três malas, recebeu o veredito: 500 mentecais. Pronto, quebrou o pau.
Acontece que o ônibus não tinha baú embaixo para as malas. Era na base do cada um leva a sua. Só que não tinha espaço. Esses micro-ônibus normalmente tem oito fileiras para três passageiros. 24 pessoas de lotação. O nosso recebeu uma pequena adaptação. Acrescentou-se uma fileira e, no corredor, puseram mais um banco do tipo
basculante. Como junto do motorista iam mais dois indivíduos, além do cobrador que ia de pé (acho que esse era o melhor lugar), Viajamos com 40 pessoas. As bagagem, ou embaixo do banco, ou no colo. A minha mochila, porque ia pagar, foi colocada no degrau da porta. Foi pisoteada e chutada em cada parada, sem contar a minha aflição de alguém passar a mão nela.
Para ajeitar 40 onde só cabiam 25 não foi fácil. Mas com quinze minutos de atraso saímos.. O cara da minha frente botou uma mala embaixo do banco e eu não tinha onde por o pé. Eu empurrava a mala e quem não tinha onde por o pé era ele. Assim fomos. Tirando que não podia me mexer, o resto até que ia bem. O ônibus andava bem e a estrada, para minha surpresa, era muito boa. Asfalto liso e bem sinalizada. Eles não gostavam muito de paradas. A primeira, só depois de quatro horas. Nada de parar em posto de gasolina. Era numa vilinha mesmo. O ônibus era cercado por vendedores. Ao sair para fazer um xixi, tinha que ir passando pelas bagagens no corredor. Pulava umas, pisava outras, e assim ia. E o xixi? Banheiro nada. Tinha que procurar um matinho e torcer pra ninguém olhar. Mas como? Se todo mundo só olhava pra mim. Sabem quantos brancos tinha no ônibus? Na vila? Durante todo o resto da viagem até o fim dessa postagem? Um! Eu!
Bom, fiz o xixi. Mas resolvi não comer. O que menos precisava ali era um ataque de gazes, sem sequer poder por o bumbum de lado, pra soltar um pum. Vocês estão rindo porque não estavam no meu lugar.
Mas depois de umas dez horas (seriam 15 de viagem) a gente acaba acostumando. Já não sentia mais nada. Quando faltavam três horas para chegarmos vi uma placa na estrada: Chimoio 450 Km. Ou seja, mais duas horas. Chegamos quase às 21h. 17 horas de tortura. Quando desci, não conseguia andar. Depois fui ver que meu joelho com os meniscos danificados, estava quase do tamanho de futebol... de salão . Fui cambaleando até o hotel, tomei dois atiinflamatórios e ainda tinha que ir jantar. Não tinha comido nada. O peixe estava muito bom. Tomei duas cervejas. Voltei para o hotel e e resolvi exercer um dos principais direitos do homem solitário, segundo minha colega Luci: dormir sem tomar banho...
Eu deixo meu relógio no horário do Brasil. Mania besta. Pois é. Como são cinco horas de fuso, é só somar cinco no horário do relógio. Acontece que, às vezes, erro na conta. Hoje foi um dia desses. Acordei às seis, pensando que eram sete. Quando percebi, já estava de pé. Então, vamos à luta. TOMEI BANHO!, pequemo almoço (aqui é como em Portugal) e fui pegar a 'chapa' para o Zimbabwe.
Mesmo amontoamento do dia anterior, mas tudo bem. Era só uma hora. Porém, ao descer da van, na fronteira, fui cercado por, pelos menos 20 homens. Uns puxavam minha mochila, outros queriam me levar para um táxi (vinte dólares), outros queriam me levar até o posto de fronteira. Farta oferta de serviços. Não sabia o que fazer. Acho que ia entrar no táxi. Estava com medo de tomarem minha mochila. De repente, alguém veio me salvar. Uma mulher que estava na van, entrou no meio da roda e disse:
  • Come with me!
I come, com todo o respeito. A mulher me tirou da roda e saiu brigando e xingando toda aquela 'machaiada'. Me disse, numa mistura inglês-português que eles só queriam dinheiro. Como se eu não soubesse. O nome dela é Gleyce (acho que é assim), zimbabwana, me ajudou nas imigrações, e me colocou no ônibus (dessa vez escolhi um daqueles grandes) para Harare. Thank you very much.
Aí vai sua foto:


 
PS- Cheguei em Harare, capital do Zimbabwe, uma cidade surpreendente. Amanhã falo dela. Resolvi investir, eu mereço, estou num hotelzinho melhor, com wireless e tomei um super banho de banheira. Boa noite.


4 comentários:

  1. Olá Gerson, trabalho no complexo fazendário também na área de informática no bloco G (hoje da SEGPLAN) e acompanho diariamente sua viagem pelo blog. Me sinto como se estivesse aí também rsrss. Parabéns pelos posts, e boa sorte na sua travessia!!

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  2. Oi, tio! Que sufoco!

    Lendo esse post até eu fiquei desconfortável! Pelo menos dá para dizer que foi memorável, não é? Seu joelho não esquece mais...

    boa sorte aí! Acompanho o blog diariamente!

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  3. Olá Gérson,estou encantada com suas histórias acompanho o blog diariamente,nos divertimos muito aqui.Obrigado pela oportunidade de conhecer o continente africano.Que Deus o proteja sempre!Abraços:Luciana

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  4. kkkkkkk essa foi muito boa! ufa, senti o sufoco daqui, porém ate q no fim deu tdo certo, de 2 em 2 dias venho ver se tem algo novo no blog;eu so to com uma dúvida que língua q e falada ai? vc ta dando uma excelente aula d história putzz!!! ta muito bom...(teca)

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