segunda-feira, 7 de novembro de 2011

África – Resumo da Ópera

Gastei um dinheirinho na viagem, mas trouxe na volta um dinheirão. Te cuida, Bill Gates.*

Foram 51 dias de viagem. Nenhum assalto, nenhuma doença (minha farmácia levada na bagagem voltou do jeito que veio), nenhum ataque de tribo canibal, nenhum ferimento causado por fera selvagem. Só alegria, tirando a saudade e a solidão, é claro.
Fazendo as contas foram percorridos 15.350 km (só na África), sendo 9.950 km por terra.
Voltei R$ 11.150,00** mais pobre. As maiores despesas foram com transporte e estadia, seguidas de alimentação e vistos.
* Na última década, o Zimbabwe viveu a maior hiperinflação que se tem notícia. Esse processo pulverizou a moeda do país que se desvalorizou de tal maneira que obrigou o Banco Central a emitir notas de bilhões de dólares zimbabweanos, que hoje são vendidas como souvenires.  
**Não estão incluídas nessa conta as passagens de ida e volta compradas com milhas da TAM. Fica a dica: para ir a qualquer ponto da África (menos o norte), só se gastam 20.000 milhas por trecho. Uma pechincha.

domingo, 30 de outubro de 2011

Tô no Brasil !!!



Do Cairo ao Brasil foram 24 horas de ansiedade e alegria por estar voltando à nossa terra. Na bagagem toda a saudade do mundo.
A aventura se encerra mas as lembranças permanecem.
Mas não vamos nos despedir ainda. Ainda quero passar para vocês mais algumas experiências que vivi nessa viagem. Continuem acompanhando mais um pouco.
Descanso uns dias antes de voltar para o batente. Aproveito o descanso para tentar pegar uma cor. Cor que, na África, não peguei na pele, mas, com certeza, peguei no coração.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Reta de chegada no Cairo


Cairo, a capital do Egito tem mais de 20 milhões de habitantes, a segunda maior do mundo, e é uma cidade frenética.
Para o turista, o dia na cidade deve ser dividido em três partes aproximadamente iguais: uma para os passeios, outra para o descanso e a terceira para gastar no trânsito absolutamente infernal.
A cidade é antiga, com ruas estreitas e carente de transporte coletivo. Assim é muito grande o número de carros na rua. E é 'cada um por si', ninguém respeita ninguém. Não existem faixas, e os motoristas vão simplesmente jogando seus carros uns sobre os outros. E buzinam, como buzinam. As motos coitadas, não tem vez. Não existem espaço entre os carros para elas driblarem o tráfego. Assim, vão para as calçadas. E buzinam, como buzinam.
Tentei várias alternativas de transporte para o pouco tempo que tinha. No primeiro dia andei uma longa distância (uns 10 Km, ida e volta) até o Museu do Egito. Lembro que nem sempre existe calçadas para andar. Temos que, muitas vezes ir às ruas disputar espaço com carros. E quando tem calçada tem que prestar atenção nas motos que invadem o espaço. No segundo dia, contratei um táxi para o dia inteiro. Queria fazer apenas dois passeios: as pirâmides, claro, que ficam a 13 km do centro e a Cidade Velha. Fomos às pirâmides, mas não deu para fazer a segunda parte. Depois de ficar duas horas preso num congestionamento, desisti e voltei pro hotel. Ficou para o dia seguinte, bem cedo, quando o tráfego é mais tranquilo.


No Poço dos Desejos das pirâmides, uma nota de dois reais. Também joguei uma moeda e fiz um pedido. E não foi para ganhar na Megasena.

Tirando isso, Cairo é uma cidade fantástica. Bonita, à beira do Nilo, grandes atrações, passeios, gastronomia, estrutura turística, enfim, dá pra divertir muito.
Mas o nosso tempo no Cairo era pouco. Inicialmente eram três dias que se transformaram em dois e meio com o atraso da Egyptair. Assim, aproveitamos o tarde do primeiro dia para visitar o incrível Museu do Egito. Para  mim o Egypt Museum é um dos principais do mundo. Coloco no nível dograndes tais como Louvre, London, Metropolitam. Nele está todo o esplendor da civilização egípcia. É um grande programa. Infelizmente, não se pode fazer fotos do Museu.Vocês vão ter que se contentar com a fachada.

Egypt Museum

O Museu fica de frente para a Praça Tahrir, no coração do Cairo, onde recentemente ocorreram as grandes manifestações que derrubaram o governo do ditador Mubarak.

Praça Tahir, o palco das manifestações no Egito. 

Claro, fui também visitar s pirâmides. Mesmo sendo a segunda vez, as três pirâmides, Queops, Quefren e Micherino, tendo à frente a Esfinge, impressionam. São uma das grandes paisagens do mundo.

A enigmática Esfinge


Aspecto do bazar Khan el Khalili

Deixei para o último dia a visita à cidade velha,ou Cairo Islâmico, onde se encontram as construções mais antigas da cidade. Dei uma pequena andada pelo bairro e em seguida fui ao grande bazar Khan el Khalili, que de comércio local acabou se transformando num centro de compras para turistas. Impossível fazer compras com tranquilidade. Basta olhar alguma coisa e o vendedor gruda em você. Se perguntar o preço, então, tem que comprar. E tem que barganhar. Eles jogam o preço lá em cima para ir barganhando. Fui comprar uma lembrança para a Aishinha (não posso revelar o que, senão perde a surpresa; ela lê o blog) e o vendedor pediu 475 pounds (uns 80 dólares). Isso porque eu era brasileiro e o preço era especial. Ao final de muita pechincha, paguei 50 pounds, cerca de oito dólares. E acho que foi caro, porque o vendedor ficou bem satisfeito. Mas o bazar tem outras atrações. Aproveitei para fumar o narguilé, que tem fumaça, mas não é nada parecido com fumo. Comi um belo 'churrasco grego'. Conhecem aquele monte de carne que fica rodando em uma máquina que, no Brasil, todo mundo foge. Aqui tem demais e é muito bom. Tomei ainda um 'chai', antes de encarar uma boa caminhada até o superlotado metrô, para depois pegar um táxi e voltar pro hotel a tempo de arrumar as malas para voltar para casa.

Vai uma fumadinha aí?

Agora só volto a falar do Brasil.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Khartoum, tô fora!

Mais uma de Khartoum
Fazia parte do meu roteiro inicial seguir do Sudão para o Egito por terra. Seguir pelo deserto núbio até fazer, na fronteira, a travessia de ferry e chegar a Assuã, no Egito. Uma longa viagem de, pelo menos, três dias. Mas já havia desistido dessa idéia. O ferry só sai uma vez por semana e, se atrasasse, ou mesmo se chegasse adiantado, ficaria, aí sim, no meio do nada: em uma cidade sudanesa de 15.000 habitantes, no meio do deserto, num calor de 45 graus à sombra.
Também, já estava um pouco cansado dessas maratonas rodoviárias, com saudades de casa, da família, dos amigos e, confesso, até do serviço. Assim, já em Addis, comprei uma passagem aérea de Khartoum para o Cairo, que inclusive me permitiria antecipar a chegada ao Brasil, podendo descansar um pouco antes de voltar ao batente.
Minha vontade de deixar o Sudão era grande. Foi o país onde mais tive dificuldades. Hotéis ruins, dificuldade de comunicação, de locomoção e até de alimentação. Assim, no dia de ir embora, parti cedo para o aeroporto. Imaginei ser melhor fazer hora lá, do que na cidade. Kharthoum tem mais de oito milhões de habitantes, deveria ter um aeroporto minimamente movimentado. Ledo engano. Nunca vi aeroporto mais espartano. E vazio; para se ter uma ideia, naquela manhã, haveria apenas três voos internacionais. O aeroporto não tinha nada, nem mesmo uma casa de cambio. “Nem casa de câmbio??” O que eu iria então fazer com os meus 350 pounds sudaneses que sobraram? Gastar no free shop? Que free shop? Não havia free shop. Só podia trazer de volta ao Brasil para distribuir como souvenir aos amigos.
Mas a mesma burocracia estatal que cria esses entraves, se encarrega de resolvê-los. Após preencher dois formulários e descobrir que ainda ficou faltando um. Após ver meu passaporte passar por seis (!) mãos. Juro que não sei para que esse povo quer tantas informações justamente quando eu vou embora. Para entrar foi tão fácil. Entrei até com uma garrafinha de whisky... Bom, mas aí a imigração dá a facada: “- Tax". Cento e cinquenta pounds“. Que bom, meu prejuízo seria menor. Só 200 pounds.
Após duas horas de trâmites, estava pronto para ir embora, quando o microfone anuncia que o voo vai atrasar. Tudo bem, para quem está acostumado com o Brasil, o que é um atrasinho? Atrasinho? Algum tempo depois, um funcionário da Egyptair me chama e avisa que vamos para um hotel (cinco estrelas, ressaltou) porque o avião teve problemas técnicos e não ia decolar. Talvez embarcássemos às 19:30 (eram 12). Ficou com o meu passaporte (não porque eles gostam de ficar sempre com o meu passaporte) me indicou o ônibus que nos levaria.

Nosso hotel tinha vista para o Nilo

Em matéria de problemas técnicos em aviões, sempre prefiro que eles ocorram quando ainda estamos em terra, de modo que fiquei resignado em ficar mais algumas horas no Sudão. O hotel não era aquele super five stars, mas foi, de longe, o melhor hotel da viagem. Ironicamente, o Sudão me proporcionou o pior e o melhor em termos de hospedagem.
Cheguei, fui ao quarto e tomei o primeiro banho decente em dias: de banheira. Depois o almoço. Também a melhor refeição no país. Estava aguardando o voo das 19:30, quando informaram que o jantar seria às 20h. Jantei, fui dormir; a primeira cama de primeira em muito tempo.
De repente, duas da manhã, o telefone toca. Vamos pro aeroporto! Poderiam esperar um pouco mais. Estava tão bom.
O ônibus nos levou ao aeroporto e nos enrolaram mais cinco horas, até que o avião decolou às 7:30 da manhã. Em toda a viagem, o recorde em atraso no quesito transporte, ficou com a Egyptair: 19 horas.
Mas isso agora não tem a menor importância. O importante é que:

Tô no Cairo!!

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Tava na África!!


A cerveja não vai ser essa, mas garanto que vai estar gelada.

Tava na África!!

Você queria e eu também quero. Estou com saudades.

Happy hour da chegada!

Para você que acompanhou o blog ou pelo menos percebeu que faz tempo que não me vê.

Marque na agenda:
Dia 4/11, sexta-feira, a partir das 19hs.

Você está convidado!

Confirme sua presença pelo e-mail: gersonbosco1@gmail.com e envio os dados do local, mapa, etc.
Obs- Vai ser em Goiânia

Khartoum e as Pirâmides de Meroe


Nem esperei o dia amanhacer e já me aprontei para sair da horrorosa Gedaref rumo a Khartoum, capital do Sudão. O mala do dono do hotel ainda tentou me arrumar um táxi caríssimo, mas eu disfarcei e cai fora.
Precisei vir ao Sudão para pegar um ônibus decente. Novo, cheiroso (os árabes gostam de essências), lugares numerados (o meu foi ao lado dum gordão), ar condicionado e horário para sair. Primeiro mundo. E ainda teve lanche e refrigerante. Pode?
Mas aqui, é uma no cravo e outra na ferradura. Chegando em Khartoum, o motorista de táxi não sabia nem contar até três em inglês. Pequena explicação. Aqui no Sudão se fala e escreve em árabe. Sabe aquelas letrinhas que parecem cobrinhas, que aparecem nas transmissões de TVs árabes? Agora mesmo, que mataram o Gaddafi, devem ter aparecido bastante. O hotel tinha endereço em inglês, óbvio. Tinha até mapa. E pros caras entenderem? Demorou, até que um motorista decifrou o mapa e seguimos.
Ao chegar no hotel, não tinha quarto. E já tinha dispensado o táxi, o que também nessa altura era irrelevante. O porteiro do hotel não falava inglês e não pode portanto indicar outro hotel. Resultado: saí na rua carregando duas mochilas, perguntando aos transeuntes se alguém conhecia um hotel. Fui parar em uma espelunca padrão Gedaref. Ma arrumaram até um quarto com banheiro (nojento, por sinal). Só que não tinha pia. Mas nessa altura, não tinha mais escolha. Fiquei ali mesmo. O negócio era ir para a rua e só voltar para dormir.

Rua central de Khartoun, ainda estava vazia. Aqui fui procurar hotel e câmbio.

Saí então para sacar dinheiro. Qual o que, os bancos sudaneses não são interligados ao sistema financeiro internacional. Também não tem casa de câmbio. Tive que ir ao mercado de novo. Lá em Gedaref troquei cem dólares por 280 pounds, aqui foi 380. Alguém me roubou, né?
E para comer? Restaurante, nem pensar. Como escolher um prato no cardápio? E o preço? O negócio é comer nas barraquinhas. Você dá uma olhada e aponta o que quer comer. Depois dá uma nota de dez para o cara e ele te devolve o troco que quiser. É importante fazer uma cara de quem sabe o preço.
É uma pena que haja tanta dificuldade para o turismo no Sudão fruto de uma política de desincentivo a quem quer visitar o país. O país tem boas atrações turísticas e Khartoum é uma cidade bonita. Tem mais de oito milhões de habitantes, avenidas largas, prédios modernos e é o ponto de encontros dos rios Nilo Branco e Azul, sobre os quais existem várias pontes, formando um belo conjunto.
No dia seguinte, novo problema. Queria ir para as Pirâmides de Meroe, distante uns 150 km. Depois, na volta, visitar as cataratas do Nilo. Se sobrasse um tempinho dava para ir ver a feira de camelos na periferia da cidade. Não existe agência de turismo aqui, do tipo 'te pega, leva pra passear e trás de volta'. Estava disposto a pagar 100 dólares (um bom dinheiro por aqui) para um motorista que fizesse comigo esse passeio. Falei, ou melhor, tentei falar com uns cinco. Ninguém entendeu. Tive que ir de ônibus. Outra luta.
Acordo, pego um táxi e vou para o terminal para pegar o ônibus para Shendi, uma cidade perto da pirâmides. Chego no terminal e... Vou explicar como é que funciona. Aqui tem dois tipos de ônibus: os que tem horário e lugar marcado, normalmente entre cidades grandes e os que saem a hora que lotar, mas nunca antes de um horário determinado, porque tem que pegar gente no caminho. Quando um indivíduo chega num terminal, imediatamente é cercado e disputado até com algumas rispidez pelos intermediários. Te puxam mesmo! Quando ele pergunta qual ônibus vai sair primeiro, eles iniciam uma simulação. O motorista entra, liga o motor, buzina para todo mundo entrar, finge que vai sair. O incauto entra correndo, o cobrador já vem e tira o bilhete, ele paga e pronto. O motorista desliga o motor e tudo volta ao normal. Até o próximo trouxa aparecer. O ônibus, afinal, só vai sair a hora que eles quiserem. Eu que já estou esperto, fico fora do ônibus. Só pago na hora que ele saí. O que nem sempre adianta. Nesse caso mesmo, tive que esperar uma hora e meia, que juntando com os outros deslocamentos, a visita e a demora para voltar, matou o dia. Quando cheguei de volta eram seis da tarde. Só deu para ver as pirâmides.

Mas valeu. Já disse lá atras, que o Sudão tem mais pirâmides que o Egito. Claro, elas não tem as dimensões e imponência das Pirâmides de Giza, as quais ainda vamos visitar. Mas são muito interessantes.

Os faraós meroíticos reinaram nessa região durante mil anos a partir do sec. VII AC. As pirâmides são as tumbas construídas para abrigar seus corpos e alguns pertences após a morte. Pela forma que foram construídas duraram mais que as cidades, que se transformaram em ruínas. Muitas dessas pirâmides, tem inclusive suas antecâmaras decoradas com hieroglifos. As pirâmides sudanesas foram construídas ao longo do Rio Nilo em inúmeros sítios. O que nós visitamos em Bregawia, tem mais de cinquenta construções.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Os Castelos de Gondar


Ficou faltando falar de Gondar. Voltamos então à Etiópia. Gondar é uma das maiores cidades do país e foi a sede do reino que o abrangia no sec. XVII, época do Imperador Fasilida e seus sucessores. Desse tempo guarda os seus castelos que não fariam feio em qualquer lugar da Europa. É curioso verificar que algumas civilizações africanas tinham um desenvolvimento cultural compatível com o do restante do mundo desenvolvido.

Os castelos de Gondar formavam um complexo, inclusive administrativo da cidade. Esse é o maior deles, a residência do Imperador. 

Infelizmente, o nosso tempo em Gondar foi curto para desfrutar de todos os sítios históricos da cidade. O tempo de visita ficou espremido entre a cansativa viagem desde Aksun e os preparativos para a viagem ao Sudão, contada na postagem anterior.
Gondar é a cidade etíope mais próxima da fronteira para onde partiríamos no dia seguinte.

As meninas, lindas, posaram para a foto.

Ainda em Gondar, um boa surpresa: o hotel melhor custo-benefício de toda a viagem. Por 25 dólares a diária, ficamos no Logde Fasil, um hotel novo, com boas instalações, ótima localização junto aos castelos e um bar e restaurante excelente, onde inclusive comemoramos nosso aniversário. Fica indicado.
Para nossa surpresa ainda, fomos convidados para a 'cerimônia do café'. A cerimônia é uma espécie de 'chá das cinco', à base de café, onde as famílias se reúnem. Raramente estranhos são convidados, razão pela qual foi com grande prazer que recebemos essa honraria.

A cerimônia do café

Na postagem anterior, acompanhe o primeiro dia de nossa passagem pelo Sudão.

sábado, 22 de outubro de 2011

Sudão – Até agora não fomos felizes



Eu me preparei para começar esta postagem assim: 'Tô no Sudão', cheio de alegria, mas não deu. O Sudão era talvez o destino mais misterioso e mais difícil. Cruzar sua fronteira, para mim, era um dos meus maiores objetivos. Foi conseguido, mas não da forma esperada.
Bem que o Lonely Planet avisou: “se você vai da Etiópia ao Sudão por terra, você tem grandes chances de dormir em Gedaref”. E acrescenta: “ Você não gostaria de estar tão longe”.
Bem que eu tentei mudar essa escrita. Acordei às 5:30h e às seis estava no terminal de ônibus de Gondar. Comigo foi um rapaz que o dono do hotel, onde eu estava, indicou. Na entrada do terminal, recebi proposta de transporte em 'van', para a fronteira, mas o rapaz recusou. Entrou no terminal, foi cercado como todos que ali chegam, discutiu e fechou. Indicou meu ônibus e foi embora, com uma gratificação pelo serviço, é claro. Imediatamente veio o cobrador e emitiu o ticket, sacramentando o negócio. Aí começou a enrolação. Nada do ônibus sair. Achei que sairia às sete, mas nada. Quando perguntei ao motorista ele disse que partiria às oito. Comecei perdendo duas horas.

Terminal de ônibus de Gondar

Saímos e nada do motorista desenvolver. Lerdinho, lerdinho. E um tremendo pinga- pinga. Depois de uma três horas de viagem, o motorista para e todos descem do ônibus em uma entrada de fazenda. Um indivíduo que parecia ser o dono do veículo disse que estava esperando um passageiro e que só demoraria cinco minutos. Quarenta minutos depois aparece uma van pela estrada da fazenda e descarrega um bocado de gente. Enfim entendi; era uma conexão. Todo mundo sabia menos eu. Nessa altura já tinha sido informado que chegaríamos às 13:30. Na minha cabeça, talvez ainda desse para chegar em Khartoun, capital do Sudão.
Mais na frente, nosso ônibus atropela (e mata) uma cabrita. É incrível a quantidade de gado andando pela pista. Se fosse lá 'no Goiás', o motorista parava pegava a cabrita e levava para o jantar. E se estragasse o ônibus ainda podia cobrar o estrago do dono da cabrita. Mas aqui é diferente. Foi aquela confusão. O fazendeiro bravo, com uma garrucha pendurada no ombro, o motorista e os passageiros, todos discutindo. Eu claro, não entendi nada. Só sei que foram mais quarenta minutos. No final a cabrita veio para dentro do ônibus e jogaram-na bem nos meus pés. Argh! (Esqueci de fotografar; que raiva !)
Resumo da ópera, cheguei na fronteira três da tarde. Uma viagem que deveria durar no máximo cinco horas, demorou sete, fora as duas em que fiquei 'morgando', esperando o ônibus sair. Palmas para o Lonely Planet. Ia dormir em Gedaref.
Na saída da Etiópia, 'baculejo', o cara resolveu abrir minha mochila. Normalmente, bagagens são vistoriadas na entrada de um país pois o viajante pode estar trazendo coisas ilegais, como drogas, por exemplo. Mas na saída? O que de tão valioso eu poderia estar levando da Etiópia? Mas fiscal manda e a gente obedece. Sempre falo isso para quem me pergunta. Quando ele viu a camiseta da seleção brasileira (a falsa, porque a original estava mais embaixo), cresceu o olho. Imagino se visse a do Timão. Ia querer me tomar na certa. E aí ia ser briga feia. Mas voltando à camiseta, eu fingi de morto, dei um chaveirinho e ficou nisso. Adeus Etiópia.
Desde a hora que cheguei na fronteira, grudou em mim um rapaz, oferecendo ajuda. Falei que não precisava, mas ele nem 'se tocou', seguiu indicando o caminho. Arrumou um cambista, me indicou a imigração, a alfândega e depois ainda indicou uma 'van' para seguir viagem. Claro que no fim exigiu uma boa gratificação ainda que tenha recebido comissão por todos os serviços que me indicou. Mas pelo menos era simpático e engraçado. Taí a foto dele:

David, o despachante da fronteira.

Já no caminho para a temível Gedaref ainda furou o pneu da 'van', e só fui chegar já de noitinha. O cara da 'van', muito mala, me disse que ia me deixar num hotel. De fato, após de deixar os passageiros, me levou ao melhor hotel da cidade. Entrou comigo trazendo o ainda o cobrador, para o recepcionista do hotel saber que ia rolar uma comissão. Este, acuado, botou o preço nas alturas. Claro, peguei minha coisas e fui embora. Lá fora eles ainda tentaram cobrar pelo serviço. Serviço de me extorquir. Encarei os malandros, parei uma 'tuc-tuc' e entrei. Eles ainda tentaram segurar o motorista. Eu ameacei sair do 'tuc-tuc' e, finalmente, fomos embora. Depois até pensei que exagerei. Se os dois 'negão' resolvem me encarar, eu 'tava frito'.
Estava com pouco dinheiro, precisava sacar. Passei por uns seis ou sete caixas eletrônicos e nenhum aceitou meu cartão. Desisti e fui para o hotel. Chamá-lo de moquifo seria ofender os moquifos. Sem dúvida vim parar no pior, mas disparadamente o pior hotel da viagem. Horroroso, camas naquela formato de barco e ainda com banheiro no corredor. E daqueles sem privada, de fazer cocô agachadinho. Não passei nem perto. Guardei a embalagem de água para o caso de ter de fazer xixi à noite, mas nem precisou. Acho que travou tudo. E o hotel ainda custou quase 25 dólares.
Ainda tive ir ir no mercado que circunda o hotel para achar um cambista. Um cara que vendia joias (árabe gosta de joia) me trocou cem dólares (depois descobri que foi o pior câmbio da viagem). Internet, nem pensar. Não achei. Voltando pro hotel, não tirei nem a roupa. Dormi do jeito que cheguei. De manhã, peguei o primeiro ônibus para Khartoun.
A boa notícia é que cheguei bem (derrubado) ao Sudão. Para quem esperava uma grande aventura para cruzar a fronteira, foi moleza. 
Aqui as mulheres se vestem assim. Não se pode fotografá-las, mas eu fiz de longe.

PS - Ficou faltando falar de Gondar, de onde vim para o Sudão. Posto assim que tiver um tempinho.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Feliz Aniversário !


Feliz Aniversário... Para mim!

Muitas pessoas lembraram, outras perceberam minha insinuação em uma postagem, mas a verdade é recebi muitos cumprimentos pelo meu aniversário ocorrido dia 19 . Obrigado a todos. Me lembro de poucos aniversários nesses últimos 54 anos. Este na 'distantíssima' Gondar, foi inesquecível.
Tenho paixão pela vida e cada ano que passa renova o desejo de seguir adiante.
Estar tendo a companhia de vocês é muito gratificante. Ontem, a festa foi só minha, quando voltar, espero comemorar com todos vocês.
Parabéns também para a Gleice que está na Espanha e fez aniversário junto comigo. Parabéns ainda para minha filha Luana que fez aniversário dia 17 e eu quase não pude cumprimentá-la.
Um grande beijo a todos.

Pelos abismos das Montanhas Simen


Vai começar de novo...

As distâncias na Etiópia são longas. Não sabia bem porque, mas descobri do pior jeito. Havia feito dois trechos recentes de avião, para economizar tempo, mas reservei para ir de ônibus o trecho entre Aksun e Gondar, até porque li em algum lugar que a estrada era bonita.
Em Aksun, onde ia passar apenas um dia, tive a lamentável confirmação que o ônibus para Gondar saía de Shire, um povoado muito pobre distante uns 80 Km. Como ele saía às seis da manhã, não tive escolha, tive que ir dormir lá.
Em Shire, me hospedei no horrível Hotel África. Peguei o apartamento de luxo, com TV e água quente por 9 dólares. Foi caro; a TV não funcionava e a água era fria.
No dia seguinte, às cinco e meia da manhã fui para o terminal rodoviário e o que vi foi, no mínimo incomum. O terminal estava fechado, com as pessoas do lado de fora. Já, do lado de dentro, todos os ônibus e vans estavam prontos para sair. Pouco antes seis começa uma reza e, em seguida, as portas são abertas. Para alguns lugares mais concorridos foi o 'estouro da boiada'. Todo mundo entrou no terminal correndo.
O ônibus era um pouco pior do que o esperado. Não tinha espaço para as pernas e ficava espremido dos dois lados pelos outros passageiros. Mas consegui trocar de lugar com um passageiro que se sensibilizou com o meu sofrimento e passei para o assento da última fileira no corredor. Pelo menos deu para esticar um pouco as pernas.

Sintam o drama. Nosso ônibus por dentro.

Logo nos primeiros momentos da partida aconteceu o inusitado. Uma coisa que vocês esperavam, eu esperava, mas já tinha esquecido: a estrada não era pavimentada. Até aqui, só tinha andado em asfalto. Como estamos ainda na seca, era poeira por todo lado. Entenderam agora porque as distâncias na Etiópia são grandes? E assim foi: espremido, desconfortável e, se abria a janela, entrava poeira, se fechava o calor era insuportável. Na dúvida, fomos revesando entre eles.
Mas veio a boa notícia. Depois de algum tempo começamos a percorrer as Montanhas Simen. As Montanhas Simen são Patrimônio Natural da Humanidade, de rara beleza e reserva ambiental, abrigando muitas espécies animais. O ônibus então começa um 'sobe e desce' por paisagens das mais incríveis que já vi. Grandes montanhas iam sendo contornadas com abismos altíssimos. Estrada estreita e perigosa. Se o motorista bobeasse, não sobrava ninguém. Lembrei da 'Estrada da Morte', na Bolívia, que tanto marcou a vida da Márcia. Mas as paisagens compensavam o desconforto e o perigo que corríamos.
Quando da viagem de moto que fiz com amigos pela América do Sul, disse que a rodovia Pan-americana em algum trecho da fronteira entre Peru e Chile, era a estrada mais bonita que já tinha visto. Hoje não posso dizer mais a mesma coisa.
Fiquei sentido, muito sentido, de não poder tirar fotos. A situação de falta de espaço dentro do ônibus era tão gritante, que tive que embarcar minha mochila com a máquina fotográfica. Também não adiantaria tê-la comigo. Minha distância das janelas e também a sujeira nos vidros impediriam qualquer fotografia. Lamento, mas as imagens que vi, não posso mostrar para vocês. Ficaram apenas na minha memória.
Ao final de nove horas de 'rallye' pelas montanhas, chegamos a um planalto verdejante, com muitas plantações e criação de animais. Com mais três horas de viagem chegamos a Gondar. Estava em pedaços, bumbum pra lá de assado, mas faria a viagem de novo.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Encontrando a Arca Perdida

A capela onde está guardada a 'arca'. Esse cara na porta, deve ser o monge.
A 'Arca Perdida' está em Aksum. Não há dúvida. Dez entre dez guias turísticos da cidade afirmam com convicção. A 'Arca Perdida' é aquele baú onde Moisés guardou as pedras onde Deus escreveu os Dez Mandamentos. Dez que deveriam ser no máximo nove, pois, pelo menos o nono, está em desuso. Segundo os alfarrábios, o Rei Salomão, de olho nos atributos da Rainha de Sabá, incumbiu-a de guardar a arca. Ela então enviou-a para Aksum, que mais tarde seria governada pelo seu filho Menelik.
Isso ocorreu há uns três mil anos, não sei exatamente. Sou péssimo em datas. A única que nunca esqueço é o meu aniversario. Por sinal... Esse é outro caso.
O caso em questão é que a arca esta guardada numa pequena construção atrás da igreja de Santa Maria de Sião, esta sim a principal Igreja Ortodoxa do Mundo, destruída e reconstruída e que já foi o Vaticano da religião ortodoxa. Com a arca fica permanentemente um monge, a única pessoa que tem acesso a ela. Recentemente Israel tentou enviar cientistas para examiná-la, mas teve a permissão negada. Se eles, assim como nós, acreditam num Deus que nunca viram, podem muito bem acreditar na existência da arca sem vê-la.

Eu no sítio dos obeliscos e, ao fundo, a Catedral 

Fica então provado que o filme do Indiana Jones é uma obra de ficção, já que a arca não poderia estar no Egito, pois esteve o tempo todo em Aksun. Indiana Jones teria tido muito menos problemas se estivesse vindo buscar a arca em Aksun, guardada por apenas um monge ao invés de enfrentar praticamente todo o Terceiro Reich em busca de uma arca que, afinal, não estava perdida.

Nuria, Roger, eu e Clare (o guia não serviu nem para tirar uma foto melhorzinha)

Mas a minha vida em Aksun, não foi muito fácil. Junto comigo no avião veio a francesa Clare que faz um tour de cinco semanas pela Etiópia, para desespero da mãe e do namorado. Na chegada ao hotel encontramos o casal de Barcelona Roger e Nuria. Juntos contratamos um guia e esse indivíduo quase estragou todo o passeio. Não poderia dormir na cidade pois teria que fazê-lo em Shire, de onde no dia seguinte, bem cedo, iria a Gondar. Assim, avisei ao guia que queria ver os obeliscos aksumitas, a Igreja de Sião e, naturalmente, o prédio onde fica a arca, ate as 15:30h (eram 11h). Tempo mais que suficiente. Mas o guia não queria nos mostrar os sítios. Estava interessado em agregar valores ao seu serviço. Sempre criando dificuldades para oferecer uma facilidade cara. Uma hora nos oferecia táxi para ir um lugar longe, outra hora `tuc-tuc` (lambreta táxi); para mim um transporte privado ate Shire por um preço vinte vezes maior que o que paguei depois. Enrolou muito nos obeliscos, depois levou-nos a um restaurante caro, demorado e que roubou na conta. Quando, no limite do meu tempo chegamos a Igreja, tinha encerrado o tempo de visitação. Não podia entrar, mas eu entrei. Só queria uma foto. Mas veio o guarda e queria cobrar para eu tirar a foto. Fiquei bravo e fui embora. Já tinha visto mesmo. A foto, pensei, eu pego na Internet, como fiz.

O belo par de obeliscos; o da direita foi devolvido pela Itália.

Mas a visita aos obeliscos é muito interessante. Nesta parte do norte da África, sucederam-se impérios a partir de 1.000 AC. Ora em Lalibela, ora em Aksun, ora em Gondar, essas civilizações fizeram importantes realizações e seus monumentos são impressionantes. A cidade tem mais de dois mil obeliscos, construídos em homenagem a pessoas ilustres que morreram. Três deles chamam a atenção pela beleza e grandiosidade. O primeiro, de 33 metros de altura caiu derrubado por um terremoto, mas esta ali para ser visto. Os outros dois, com mais de vinte metros de altura, formam um belo par, embora tenham sido separados pelos italianos de Mussolini que roubaram um deles e o levaram para a Itália. Recentemente, foi devolvido após muita pressão.

O obelisco derrubado por um terremoto

Em cima da hora, peguei um `tuc-tuc` e fui para o terminal pegar ônibus para Shire, de onde mandei uma curta postagem pedindo para que vocês rezassem por mim, lembram? Ainda bem que vocês rezaram bastante...

Lalibela


No século XII, um imperador chamado Lalibela, após visitar Jerusalém resolveu construir igrejas numa região inóspita no que hoje vem a ser o norte da Etiópia. Louco ou não, ele construiu o que, na minha opinião poderia constar em qualquer lista das maiores maravilhas do mundo.

O menino Joanes ganhou um chaveiro e me convidou para um café na casa dele.

Lalibela, hoje uma pequena cidade de 15.000 habitantes, possui na sua periferia onze igrejas totalmente escavadas na pedra, a maior delas com impressionantes 15 metros de altura . É lamentável que as fotos que estou postando, não dão a dimensão desses monumentos. Como elas estão encravadas na rocha e cercadas por ela, não existe espaço para um enquadramento que contemple a beleza e a imponência dessas construções.
Para realizar esse feito o Imperador usou 40.000 escravos, sendo que a última e talvez a mais imponente, a Igreja de São Jorge (só podia ser!) ficou pronta 23 anos depois de iniciada a primeira. Totalmente inserida dentro da rocha, só pode ser vista de cima. Para acessá-la temos que descer uma rampa íngreme.

A impressionante Igreja de São Jorge

A igrejas de Lalibela são frequentemente comparada às construções de Petra, na Síria, que serviu de locação para um dos filmes de Indianas Jones. Todavia, Petra é como um cenário de Hollywood. Tem só a fachada, enquanto nas Igrejas de Lalibela você entra, algumas são ornamentadas com afrescos, e da para rezar um pouco.

Essa e a primeira, são duas das maiores, mas não guardei o nome.

Fiz a visita às igrejas com a espanhola Anabela. Anabela trabalha para o governo espanhol num programa de assistência internacional e mora no Niger. Foi bom pelo menos por alguns momentos, sair do inglês para conversar no velho e bom 'portunhol'. Nosso guia Zenebe pede para ser chamado quando algum de vocês visitarem a cidade.

Eu com Anabela e abaixo com o guia Zenebe

Engraçado, é que em cada igreja visitada, embora o chão seja de rocha, coberta com carpete. Temos que retirar os sapatos, para tortura do meu joelho baleado. Como são onze igrejas, foram onze tira põe de tênis. Antes, pela manha, no aeroporto de Addis, o cauteloso sistema de segurança do aeroporto também me fez tirar os tênis por três vezes. Como não durmo com eles, foram 15 vezes em apenas um dia. Acho que posso pedir o registro no Livro dos Recordes.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

No meio do nada...

Amigos

Estou no meio do nada, num lugar chamado Shire, no norte da Etiopia. Tive que vir ate aqui para pegar um onibus para a cidade de Gondar, ja perto com a fronteira do Sudao. Se tivesse um pouco mais de juizo, teria ido de aviao.  So para fazer essa postagenzinha ja se vao quase uma hora. Mas `ajoelhou, tem que rezar`. Amanha enfrento uma viagem de 12 horas naqueles `confortaveis` onibus` locais. Para voces terem uma ideia o meu assento e numero 59, o penultimo. Rezem por mim.
Fico devendo a postagem sobre as Igrejas de Lalibela e hoje estive em Aksum a cidade que abriga a `arca perdida`, aquela do Indiana Jones. Nao acreditam? Aguardem, entao.

sábado, 15 de outubro de 2011

O Merkato



Não sei se vocês entendem bem quando falo que vou a um mercado ou feira na África. Não pensem que se compara a uma feira de rua ou um mercado fechado ou até algumas feiras muito grandes como as que tem no Brasil. As feiras são uma instituição africana e em cada grande cidade tem uma. Nelas tem de tudo. Não é como o mercado municipal ou a 25 de março em São Paulo, a feira de Campo Grande no Rio ou a Feira Hippie em Goiânia que se especializam num tipo de mercadoria. Aqui não, aqui vende de tudo mesmo, inclusive serviços.
Não teria coragem de ir sozinho ao Merkato, a feira de Addis Ababa. O Lonely Planet diz: “se você tiver que ser roubado na Etiópia, será aqui”. Em Luzaka tinha uma parecida, mas não tive coragem para entrar. Mas a de Addis é enorme. O próprio LP diz que pode ser o maior da África.
Ontem, entretanto, aconteceu uma coisa incrível. Tinha acabado de almoçar e ia visitar a St George Cathedral, a principal igreja ortodoxa cidade. No caminho, fui abordado por dois jovens que resolveram me acompanhar indicando o caminho (que eu já sabia, por sinal). Achei que era mais uma roubada. Não deu para para fazer a visita porque haveria um culto. Na volta me seguiram um pouco e disseram que eram estudantes de turismo. Para eles era bom me acompanhar porque treinavam o inglês. Ofereceram para me levar ao Merkato. Resolvi confiar nos garotos. Hoje de manhã liguei e eles vieram me buscar no hotel. Fomos de van, baratinho, custa uns trinta centavos (de reais) a viagem.

Os jovens Ilex e Sileshi.

A feira começa com eletro eletrônicos em lojas mais ou menos organizadas. Você pode, por exemplo comprar uma geladeira ou um televisor. Depois começa a diversificar, mas as mesmas espécies ficam juntas. Uma coisa que me chamou a atenção logo no início foi umas barracas com costureiros. Pelo menos uns cinquenta enfileirados prestavam seus serviços ali mesmo. E as pessoas iam chegando com sua roupas para costurar, consertar, etc. Em seguida passamos pela parte dos temperos com destaque para as pimentas, largamente usadasq sdo na culinária etíope. Passamos pelos incensos, que aqui são queimados em pedra, verduras e frutas, utilidades domésticas, fábricas de queijo e manteiga, reciclagem de ferro e aço, de embalagens, comidas em geral, muito café e por aí afora. Foram duas horas percorrendo ruelas e tenho certeza que não andei 20% dela. Agora posso dizer que fui numa feira africana. As fotos são poucas porque o pessoal não gosta, mas disfarcei e tirei algumas.

Rua de reciclagem de ferro


Os temperos e pimentas

Quando cansei, ofereci aos rapazes pagar o almoço. Levei-os ao hotel que tinha um restaurante bom e barato. Eles porém sugeriram ir a um restaurante de comida típica, no próprio hotel. Como eu tinha me progamado para ir à noite, já sabia até a comida que queria: 'injera', embora não soubesse direito o que era.

A injera

Quando veio o prato até me assustei. Um enorme tabuleiro redondo com uma massa borrachuda por baixo e por cima misturas tipo patê, de frango, carne, verduras e algumas outras, todas muito apimentadas. A gente arranca um pedaço da massa de baixo e com a mão mesmo, vai pegando e comendo as misturas. Eu pedi uma colher para fazer o serviço. Mas a comida tem um sabor único. Gostei e comi muito.

Vejam a dimensão desse prato

Mas o melhor ficou para o fim. Tomei duas cervejas, os rapazes duas cocas e a conta, mesmo com uma generosa gorjeta, saiu 18 reais. E ainda deixamos muita comida no tabuleiro.
Paguei pelo serviço de guia (dez reais para cada). Os rapazes ficaram muito agradecidos.
Addis Abada me impressionou. Embora tenha uma população que se divide entre cristãos e muçulmanos, é claramente uma cidade ocidentalizada. Pela aparência da cidade e pela forma que as pessoas na rua se vestem, com direito a muito jeans, difere muito das cidades pelas quais passamos. Vai deixar saudades.
Amanhã sigo para Lalibela, um fantástico complexo de igrejas escavadas na pedra. Uma das maiores atrações da África. Como vou de avião (seriam 17 horas de ônibus), amanhã mesmo conto.

PS- Tem gente reclamando que não consegue mandar comentários. Se continuar acontecendo, mande o comentário por e-mail para mim que eu publico.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Addis Ababa


Já estou em Addis Ababa, a capital da Etiópia. Dessa vez a viagem foi mais tranquila. Bastou acordar um pouco mais cedo, as três da manhã e pagar 30 dólares num táxi para Entebe, a 40 Km de Kampala, onde fica o aeroporto. Fizemos uma escala em Nairóbi, no Quênia e às 9:30h já estávamos aqui.
Uma coisa interessante aconteceu em Nairóbi. Enquanto procurava minha plataforma de embarque para fazer conexão, vi um povo esquisito, feio, conversando diferente, alto, prestes a embarcar. Me aproximei e vi que ia sair um voo para Mogadisco, a capital da Somália. A Somália é o país mais violento do mundo. Não tem governo estabelecido. É um campo de batalha. Por isso o fome gerada pela seca na região é tão grave. Não se consegue sequer uma coordenação para distribuir a ajuda que chega do mundo inteiro. Recentemente li uma reportagem sobre o restabelecimento, com o auxílio internacional, de um governo em Mogadisco. Segundo a matéria, o prefeito da cidade tinha a profissão mais perigosa do mundo. Mas pelo menos já existem voos para lá. Alguém se habilita?
A notícia que eu tinha era que a chegada na Etiópia ia ser uma novela. Imigração, visto, estas coisas. E já começaram me mandando para uma salinha porque eu não tinha um papelzinho amarelo. Cheguei lá e, pasmem, era a vacina contra a febre amarela. Pela primeira vez em quase vinte anos por países que exigem a tal vacina, me pediram o certificado. Claro que eu tinha. Achei que nunca ninguém ia pedir. Parabéns para a Etiópia. Exige e confere. Em seguida, quase sem nenhuma fila, tirei o visto por apenas 20 dólares. Paguei satisfeito. Compensou o táxi de cedo. Saí da imigração e já estavam colocando minha mochila na esteira. Um recorde. Parabéns para a Etiópia.
Para ir ao hotel o táxi pediu 15 dólares. Negociei e caiu para oito. A economia teria dado para pagar o almoço, mas como eu fui num restaurante italiano chique, o 'Castelli', só pagou a metade.

Almoço caprichado no 'Castelli'.

No caminho do aeroporto, me surpreendi com a beleza da cidade. Avenidas largas, movimentadas, relativamente conservadas, prédios modernos. Gostei. Só teve um senão. Sempre tem. Muitos mendigos nas ruas. Mulheres com crianças, crianças sem mulheres, cegos, aleijados, bobos, todos mendigando. Eles se concentravam nos locais em que o trânsito engarrafava, abordando os veículos. O adivinho que disser para quem eles vinham pedir dinheiro, ganha uma passagem para Mogadisco. Era o trânsito parar e meu táxi era abordado. Até o cego vinha atrás de mim.

Estou no Ras Hotel, 26 dólares a diária, uma instituição de Addis. É um hotel estatal. Já teve dias melhores, mas ainda conserva um certo charme e tem ótima localização. Uma coisa boa é que seus trezentos quartos (e quase não acho vaga) são amplos e limpos. O meu é o último do corredor. Demora um tempão para chegar.

O corredor do Ras Hotel. Não dá nem para enxergar o fim.

Cheguei, já dei um passeio. A cidade é realmente bonita e os mendigos enchem o saco. Amanhã vou ao museu para ver se entendo essa história do rastafári. Conheci um guia que me ofereceu levar ao Merkato – o mercado da cidade, o maior da África, segundo alguns. Acho que vou arriscar. E ainda não tomei o café daqui. Depois eu conto.