terça-feira, 25 de outubro de 2011

Khartoum e as Pirâmides de Meroe


Nem esperei o dia amanhacer e já me aprontei para sair da horrorosa Gedaref rumo a Khartoum, capital do Sudão. O mala do dono do hotel ainda tentou me arrumar um táxi caríssimo, mas eu disfarcei e cai fora.
Precisei vir ao Sudão para pegar um ônibus decente. Novo, cheiroso (os árabes gostam de essências), lugares numerados (o meu foi ao lado dum gordão), ar condicionado e horário para sair. Primeiro mundo. E ainda teve lanche e refrigerante. Pode?
Mas aqui, é uma no cravo e outra na ferradura. Chegando em Khartoum, o motorista de táxi não sabia nem contar até três em inglês. Pequena explicação. Aqui no Sudão se fala e escreve em árabe. Sabe aquelas letrinhas que parecem cobrinhas, que aparecem nas transmissões de TVs árabes? Agora mesmo, que mataram o Gaddafi, devem ter aparecido bastante. O hotel tinha endereço em inglês, óbvio. Tinha até mapa. E pros caras entenderem? Demorou, até que um motorista decifrou o mapa e seguimos.
Ao chegar no hotel, não tinha quarto. E já tinha dispensado o táxi, o que também nessa altura era irrelevante. O porteiro do hotel não falava inglês e não pode portanto indicar outro hotel. Resultado: saí na rua carregando duas mochilas, perguntando aos transeuntes se alguém conhecia um hotel. Fui parar em uma espelunca padrão Gedaref. Ma arrumaram até um quarto com banheiro (nojento, por sinal). Só que não tinha pia. Mas nessa altura, não tinha mais escolha. Fiquei ali mesmo. O negócio era ir para a rua e só voltar para dormir.

Rua central de Khartoun, ainda estava vazia. Aqui fui procurar hotel e câmbio.

Saí então para sacar dinheiro. Qual o que, os bancos sudaneses não são interligados ao sistema financeiro internacional. Também não tem casa de câmbio. Tive que ir ao mercado de novo. Lá em Gedaref troquei cem dólares por 280 pounds, aqui foi 380. Alguém me roubou, né?
E para comer? Restaurante, nem pensar. Como escolher um prato no cardápio? E o preço? O negócio é comer nas barraquinhas. Você dá uma olhada e aponta o que quer comer. Depois dá uma nota de dez para o cara e ele te devolve o troco que quiser. É importante fazer uma cara de quem sabe o preço.
É uma pena que haja tanta dificuldade para o turismo no Sudão fruto de uma política de desincentivo a quem quer visitar o país. O país tem boas atrações turísticas e Khartoum é uma cidade bonita. Tem mais de oito milhões de habitantes, avenidas largas, prédios modernos e é o ponto de encontros dos rios Nilo Branco e Azul, sobre os quais existem várias pontes, formando um belo conjunto.
No dia seguinte, novo problema. Queria ir para as Pirâmides de Meroe, distante uns 150 km. Depois, na volta, visitar as cataratas do Nilo. Se sobrasse um tempinho dava para ir ver a feira de camelos na periferia da cidade. Não existe agência de turismo aqui, do tipo 'te pega, leva pra passear e trás de volta'. Estava disposto a pagar 100 dólares (um bom dinheiro por aqui) para um motorista que fizesse comigo esse passeio. Falei, ou melhor, tentei falar com uns cinco. Ninguém entendeu. Tive que ir de ônibus. Outra luta.
Acordo, pego um táxi e vou para o terminal para pegar o ônibus para Shendi, uma cidade perto da pirâmides. Chego no terminal e... Vou explicar como é que funciona. Aqui tem dois tipos de ônibus: os que tem horário e lugar marcado, normalmente entre cidades grandes e os que saem a hora que lotar, mas nunca antes de um horário determinado, porque tem que pegar gente no caminho. Quando um indivíduo chega num terminal, imediatamente é cercado e disputado até com algumas rispidez pelos intermediários. Te puxam mesmo! Quando ele pergunta qual ônibus vai sair primeiro, eles iniciam uma simulação. O motorista entra, liga o motor, buzina para todo mundo entrar, finge que vai sair. O incauto entra correndo, o cobrador já vem e tira o bilhete, ele paga e pronto. O motorista desliga o motor e tudo volta ao normal. Até o próximo trouxa aparecer. O ônibus, afinal, só vai sair a hora que eles quiserem. Eu que já estou esperto, fico fora do ônibus. Só pago na hora que ele saí. O que nem sempre adianta. Nesse caso mesmo, tive que esperar uma hora e meia, que juntando com os outros deslocamentos, a visita e a demora para voltar, matou o dia. Quando cheguei de volta eram seis da tarde. Só deu para ver as pirâmides.

Mas valeu. Já disse lá atras, que o Sudão tem mais pirâmides que o Egito. Claro, elas não tem as dimensões e imponência das Pirâmides de Giza, as quais ainda vamos visitar. Mas são muito interessantes.

Os faraós meroíticos reinaram nessa região durante mil anos a partir do sec. VII AC. As pirâmides são as tumbas construídas para abrigar seus corpos e alguns pertences após a morte. Pela forma que foram construídas duraram mais que as cidades, que se transformaram em ruínas. Muitas dessas pirâmides, tem inclusive suas antecâmaras decoradas com hieroglifos. As pirâmides sudanesas foram construídas ao longo do Rio Nilo em inúmeros sítios. O que nós visitamos em Bregawia, tem mais de cinquenta construções.

2 comentários:

  1. Gerson,a impressão que se dá é que o "jeitinho brasileiro" e a "Lei do seu Xará" encontram fortes concorrentes no solo africano!

    ResponderExcluir
  2. Que viagem maravilhosa!!! Muito interessante o explorar deste universo...Parabéns, boas lembranças devem ficar registradas em nossa mente para sempre. Ana Mônica

    ResponderExcluir