quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Um trem atravessa a savana africana II


Depois de 24h de viagem, já começa a bater o cansaço e o desânimo. A emoção da parada em cada vila vai diminuindo. A cada uma (e são muitas) a paisagem se repete, crianças e vendedores. Tirei tanta foto que fiquei com o dedo doendo. Mas uma coisa me chamou a atenção ainda na Zâmbia. Claro, as vilas pelas quais passamos, são pobres, muito pobres. A aparência das pessoas refletem isso, embora algumas mulheres com mantas coloridas tenham até uma certa elegância. As crianças especialmente, andam com roupas maltrapilhas, muitas descalças, embora não aparentem subnutrição. Brincam à nossa frente e tem sempre um sorriso de alegria. Numa dessas vilas, me chamou a atenção algumas delas, já maiores, que iam para a escola, muito bem vestidas. As meninas de saia azul marinho, camisa e meia brancas, com sapatos pretos impecáveis, roupa de normalista. O rapaz idem, só que de calças, claro. A julgar pela aparência dos jovens, existe preocupação com a educação. Gostei.
Meninos na Zâmbia

E a menininha carregando o irmão.

Apesar das diligências da Obbiggah, a nossa camareira, o ambiente no trem vai se degradando com o tempo. Os banheiros que já eram ruins, ficam imundos. O pó que entra pelas janelas vai se acumulando. Banho? Pensei que não tinha, mas depois da segunda noite de sono, descobri um chuveiro. Mas acho que mesmo que soubesse, dispensaria.

A camareira Obbiggah

Na Tanzânia a paisagem muda. Aparecem vales e montanhas, o que faz o trem balançar mais. Não me tirou o sono nem um pouco. Pontualmente às 20h do segundo dia, após o jantar (mesmo cardápio), dormi e fui direto até as cinco da manhã. Fui acordado pelos meus companheiros de quarto para ver o 'Kilimanjaro'. Não era possível, mas mesmo assim, acordei e sai correndo para fotografar.... uma 'montanhinha' ao lado da qual o trem passava. Mico! Mas os dois eram simpáticos, alegres e muito prestativos. Um deles, uma certa hora me fez uma proposta indecente: trocar minhas legítimas havaianas pelas duvidosas zambianas dele. Achei muita folga, mas topei. Ele merecia. Só não sei como faria para por seu pé 44 na sandália 41. Mas ele ficou contente. Pode ver na foto.

Evans e Francis. Para as moças não reclamarem que no Blog só tem mulher. O primeiro levou a sandália.

O tempo passa, mais fotos e cada vez mais gente assediando o trem. Também pudera, a população da Tanzânia é o triplo da de Zâmbia. Aumenta também a diversidade de iguarias oferecidas aos passageiros.

Vendedoras de bananas

O meu café da manhã só foi servido às 10:30, apesar das reclamações. Dois ovos, duas salsichas, duas fatias de tomate e café por módicos U$ 2. Matada a fome, tirei um cochilo, quando fui acordado por uma verdadeira histeria do lado de fora da cabine: “animals, animals!!".
Levantei correndo, peguei a máquina e fui para a janela do trem. Primeiro um bando de gnus e depois antílopes. Fotografei freneticamente, mas para meu desespero, tinha acabado a carga da máquina. Voltei para a cabine, troquei as pilhas e fiquei mais uma
hora plantado na janela esperando ver elefantes, leões ou qualquer 'Big Five'. Nada. Um macaquinho aqui, um veadinho ali...
Mas a essa decepção somou-se uma alegria. Uma intermitente garoa assolou o trem desde a sua entrada no Parque Selous. Será o fim da grande seca pela qual a África atravessa?
Não é comum, mas o trem chegou em Dar es Salam no horário. Tinha cinco objetivos imediatos: chegar num hotel, tomar um banho, achar uma internet, fazer uma refeição decente e dormir numa cama. Completei o terceiro.

Um trem atravessa a savana africana I



Seriam três horas de espera. A estação, relativamente imponente não escondia o desgaste pela falta de manutenção. Arrisquei uma ida ao banheiro, sempre pensando ser este melhor que o do trem. Terrível, mas fiz xixi assim mesmo. Dei uma ida até a plataforma e o comboio já estava pronto, velho e mal conservado.
Ás 15:30h começou o embarque. Minha cabine, tirando os maus tratos, até que não era ruim: dois beliches com um corredor no meio e uma mesinha. A cama era firme e com a proximidade da partida, parecia que eu ia viajar sozinho. Ledo engano. Já estava espalhando minhas coisas quando, cinco minutos antes da saída, dois 'negão' (qual é o plural de negão?) entraram na cabine. Iríamos em três.

A cabine com a minha cama: até que quebra um galho

Com um minuto de atraso o trem partiu. Ótimo sinal. E até que ele andava bem. Cerca de duas horas depois a primeira parada. Em todas as paradas que o trem fez, sempre a mesma coisa ocorria: vendedores cercavam o trem vendendo comida, refrigerante, chip de celular, recarga (o que mais vende), roupas e até eletrônicos em alguns lugares.

O cerco ao trem

A minha maior diversão nessas paradas, todavia, eram as crianças. E que quantidade. Em cada parada centenas delas se aproximavam do trem para saudar os passageiros ou apenas olhar o movimento. Eu saia à janela para tentar fotografá-las. Algumas corriam quando viam a máquina, outras se aproximavam e até faziam pose. Pensei que pediriam dinheiro ou comida em troca, mas para minha surpresa e felicidade até, nenhuma pediu isso. Pediam, pasmem, canetas. No começo dei alguns chaveiros, mas a briga era tanta que parei de dar.

meninas fazendo pose...


e meninos desconfiados

Às 20h serviram o jantar: arroz com dois pedaços de carne (dura, mas gostosa) e um pouco de verdura. U$ 3, preço de PF. A partir daí, dormi, mas o movimento na cabine foi grande a noite inteira. Primeiro puseram mais um rapaz na cabine. Depois ele foi embora e entraram mais dois. Ficamos em cinco. Problema dos outros quatros, porque pra mim foi um sono só. Tava friozinho, me enrolei num cobertor e só as seis da matina acordei com crianças fazendo algazarra do lado de fora.
Tirei muitas fotos (aqui não precisava ficar escondido) até que, as onze da manhã, chegamos à fronteira. Foi uma verdadeira invasão. Além dos vendedores normais vieram os cambistas. Tinha que me desfazer do dinheiro da Zâmbia. Não havia calculado antes, mas depois de muita conta, acho que fiz uma troca razoável (para o cambista, é claro).
Quatro da tarde, exatas 24h depois da partida, chegamos a Mbeya, a maior cidade do trajeto, parada para quem vai ao Malawi e ao Lago Nyasi. Nesse ponto houve o encontro dos trens, o que vinha de Dar es Salam, com o nosso. Os dois saem no mesmo horário. Metade da jornada estava cumprida.

Kapiri Mposhi

A Estação de onde parte o trem Tazara

Para chegar na estacão de saída do trem Tazara, dá trabalho. O ônibus para Kapiri Mposhi, um povoado no meio do nada, onde fica a estação, saía às 8:30h. Cheguei cedo, antes das oito. Ao subir no ônibus uma surpresa: já não havia lugar. Os passageiros subiram com as suas respectivas bagagens, porque os bagageiros do ônibus levavam um carregamento de cerveja. Com muito custo, carregando minhas mochilas e e pulando as malas espalhadas pelo chão, achei um lugar para sentar; o último. A mochila maior, foi acomodada no corredor junto com um sacolão de outro passageiro, de modo que a passagem naquele local ficou bloqueada. Isso não era problema, pois todos já estavam acomodados. Ainda assim algum indivíduos insistiam em sair do seu assento para ir a algum lugar, sendo que cada vez que isso acontecia eu precisava levar a mochila ao meu colo e devolvê-la depois. Em uma dessas operações, rasgou um bolso lateral preso num parafuso do banco. Acho que o primeiro rasgo na mochila equivale ao primeiro risco no carro zero quilometro que a gente comprou. Dá uma p... raiva.
Era meio dia quando chegamos, quatro horas antes do trem sair. Para chegar à estação de trem, que era mais no meio do nada ainda que o povoado, tive que pegar um táxi. O primeiro táxi quando você chega num lugar que não conhece é sempre caro. Pode parecer barato para você, mas normalmente é mais caro que o preço praticado. O taxista pediu 20.000 Kwachas; disse que era muito caro (pura especulação). Ele deixou por 15 e fomos. Como tinha bastante tempo, deixei a mochila na estação e peguei a volta com mesmo taxista para ver se achava uma lan house. Queria fazer uma postagem de adeus para vocês, meus leitores. Estava tudo fora do ar e ainda tive que pagar a volta ao taxista.
Aproveitei, almocei um sanduba e comprei alguma coisa para levar. Para voltar à estação, outro táxi, só que dessa vez por 10, o preço justo.

Saguão de espera da segunda classe para pegar o trem

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Luzaka e o Trem Tazara


Decididamente, Luzaka não é uma cidade atraente. Seu traçado é até interessante, lembra Goiânia. As grandes avenidas convergem para o centro. Todavia, falta paisagismo, passeio para pedestres e no centro de algumas avenidas, corre em valas, esgoto a céu aberto. Mas como, segundo dizem, todos os caminhos da Zâmbia levam a Luzaka, aqui estou.
Antes de dar um tour pela cidade tinha dois problemas a resolver. Primeiro comprar o bilhete de trem para a Tanzânia. Como o trem sai amanhã e de outra cidade, estava com medo de não conseguir lugar. Nesse caso teria que ir de ônibus e perderia uma das grandes atrações da viagem que é o Tazara Train. Em seguida teria que ir à embaixada da Tanzânia tirar o visto de entrada no país. Felizmente deu tudo certo e comprei o bilhete; fico numa cabine de 4 pessoas, todos homens, e paguei pouco mais de U$50. Uma pechincha levando-se em conta a extensão da viagem. Em seguida fui tirar o visto e o enredo é sempre o mesmo. Tem que ir de manhã, deixa o passaporte e volta à tarde para pegá-lo. Tudo por módicos U$50, cash, e como as embaixadas nunca são no centro, foram mais U$20 para o táxi. Mais caro que a passagem de trem.
Esse negócio de visto é um caso sério. O Brasil perdoou a dívida dos países africanos, mantém programas de ajuda e é um dos maiores investidores na África em geral. O Itamarati poderia pleitear o fim dessa idiotice. O pior é ter que se deparar com a burocracia. Tem que ir e voltar duas vezes na embaixada para colocar um selinho no passaporte.

Chegando na feira

Cumprida a agenda, resolvi visitar o Luzaka City Market, o maior mercado da cidade. Os mercados por aqui são imensos, caóticos, sem nenhuma estrutura de higiene ou logística e erguidos sobre terrenos baldios numa ode à informalidade. Vendem de tudo. Tudo mesmo.
Aproveitei o táxi da volta da embaixada e pedi para ficar no mercado. O taxista disse que lá era muito desordenado e me deixou noutro, muito sem gracinha. Resolvi então ir a pé.
Na medida em que vamos aproximando, o movimento vai aumentado. As ruas são tomadas de ambulantes que não tem o ponto lá dentro. Quando cheguei em uma das entradas, não consegui seguir. Um fedor, esgoto pelas vielas, pessoas desocupadas, mal encaradas. Fiquei com medo. Barra pesadíssima. Tirei uma foto e já veio um cara dizer que não podia. Esperei ele se afastar e tirei outra. Ainda andei um pouco pelas beiradas e deu pra sentir mais um pouco. E não é que as pessoas entram para fazer suas compras?

A entrada da feira; a foto não ficou boa, tive que tirar escondido

Aproveitei que estava perto e fui comprar o bilhete de ônibus para Kapiri Mposhi, cidade a 200 Km de Luzaka de onde sai o trem. Outro sufoco. Um monte de homens me cercando, cada um querendo me levar para a sua empresa. Depois de muita confusão acabei comprando uma passagem que nem sei se é a certa. Vou saber amanhã.

A Rodoviária de Luzaka

Falando em amanhã, vamos falar do trem. O ferrovia Zâmbia-Tanzânia é um dos marcos da África e chega a ser chamado de transiberiana africana. É uma linha férrea de 1870 Km, que inclusive atravessa o Parque Nacional de Selous, um dos ambientes mais preservados da África e que tem animais em abundância. Foi construída no início da década de 80 pela China; não a atual, mas a de Mao Tse Tung, já que na ocasião os dois países tinham governos de orientação maoista. Ninguém explica por que ela foi construída a partir da cidadezinha de Kapiri Mposhi e não de Luzaka, mas o destino final é Dar es Salam, a capital da Tanzânia.
Serão 48 horas de viagem, se não houver atrasos, o que é comum. O trem partirá às 16:00h (onze no Brasil) e chega na quinta-feira nesse horário (espero). Até lá fico sem dar notícias, mas quando voltar, terei muitas novidades. Me aguardem... Sentirei saudades de vocês.

domingo, 25 de setembro de 2011

Luzaka - Zâmbia


Já estou em Luzaka, capital da Zâmbia, 1,3 milhões de habitantes, pouco maior que Goiânia. Não falei antes para não assustar ninguém, mas estava um pouco receoso sobre o que ia encontrar aqui. Domingo passado, quando ainda estava em Harare, estava tendo eleições para presidente da Zâmbia. Eleições na África são sempre delicadas e as daqui, muito concorridas. Num jornal de Harare li sobre o candidato da oposição acusar o governo de fraude, ou coisa assim. Mas ao entrar no país, em Livingstone, o resultado já havia saído e a oposição ganhou. O motorista de táxi que me contou disse que se fosse no Zimbabwe tinha guerra civil, mas aqui é normal. Que bom. Tem festa para todo lado.
A Zâmbia é um pais democrático e, nos últimos dez anos, tem crescido a taxas aceleradas. Minha primeira impressão é que a qualidade de vida aqui é um pouco melhor que em Moçambique e Zimbabwe.
Mas para chegar aqui, passei por uma roubada. Literalmente. No hotel que eu estava em Livingstone, não tinha toalha no quarto (praga do Joel). Tinha que pegar na portaria e depositar U$ 10. Pegava de volta na saída. Pois bem, hoje ia pegar o ônibus às 7:30h. Às sete cheguei na portaria com a toalha para devolver e... fechada. Devolvi a toalha pro vigia e mandei ele ficar com o dinheiro. Duvido que tenha conseguido. O dinheiro deve ter ficado com o porteiro dorminhoco. Que raiva!
Já no ônibus (na foto ele até parece ajeitado, mas é derrubadão), o golpe das fileiras. Esse tinha cinco em vez de quatro. As pernas cabiam, mas todo mundo tinha que vir encolhidinho. Pelo menos quem sentou do meu lado uma adolescente magrinha. Sete horas de viagem e ela veio teclando seus dois celulares de lá até aqui. Paramos para almoçar num lugar suspeitosíssimo. Mas como todo mundo comia, comprei uma 'sausage' (salgadíssima) and chips (gordurosíssimas). Estou vivo...
Fui criticado outro dia porque ajudei um rapaz branco na rodoviária de Johannesburgo. Falei que muitos negros pedem dinheiro e a gente não ajuda. Pessoas entenderam que foi racismo. Talvez tenha colocado mal. Afinal, o rapaz me ajudou a achar um hotel. Mas o que eu quis dizer mesmo é que até para ajudar alguém, a 'boa' aparência funciona. Nesse caso como a aparência era branca, talvez os críticos tenham alguma razão. É difícil ter um padrão de comportamento quando a gente é o tempo todo assediado. Alguns, por simpatia ou qualquer outra razão subjetiva, acabam conseguindo. Hoje, quando ia pagar o almoço, um rapaz de paletó, ao meu lado na fila pediu para inteirar o dinheiro para o seu. Tinha boa aparência também, mas era negro. Dei o dinheiro. Já na rodoviária de Luzaka, fui abordado por dezenas de pessoas 'oferecendo' serviços. Não dei para ninguém...
Já estou confortavelmente hospedado em Luzaka, no Fairview Hotel (U$ 70). Agora, em qualquer cidade que chego, chamo um táxi e mando ele ir para um dos hotéis recomendados pelo Lonely Planet. Sai mais caro, mas não tem stress. Amanhã mando mais notícias.
Ainda não tirei fotos de Luzaka, então vai a do hotel

sábado, 24 de setembro de 2011

Victoria Falls II


Antes de mais nada, deixa eu fazer uma correção: é 'VICTORIA' e não 'vitoria' como estava escrevendo.
Hoje acordei um pouco mais tarde e quando me dirigi para a cachoeira, já tinha sol quente e muitos turistas no parque. Bem mais que no outro lado quando fui.
Me preparei para o banho. Levei uma muda de roupa na mochila com short e havaiana para enfrentar a 'chuva'. Achava que como a queda é do lado de cá, haveria passarelas para chegar perto das quedas com direito a molhar geral.
Que decepção. A queda, do lado de cá não vale os U$ 20 (fora outro tanto de táxi) que paguei para entrar no parque. Daqui só se vê a parte periférica da cachoeira. Da queda principal, só se vê uma nuvem ao longe.

A foto é bonita, mas a queda mesmo é a nuvem lá no fundo

Num certo momento da caminhada, ia seguindo junto com duas senhoras, uma delas com um chapéu de Foz do Iguaçu com bandeirinha do Brasil e tudo. Pensei: são brasileiras e resolveram tirar uma com o pessoal daqui usando o chapéu. Mas não eram. Eram mexicanas que tinham visitado o Brasil meses antes. Perguntei de qual quedas tinham gostado mais e elas não titubearam. “Foz do Iguaçu é muito melhor”, disse uma.“ Só não pode falar para o pessoal daqui. Eles não gostam”, acrescentou a outra. Elas estavam com um guia, mas como falávamos em portunhol, acho que ele não entendeu.
Para quem esperava o meu veredito sobre qual é melhor, Victoria ou Iguaçu, sigo as mexicanas. Confesso que ontem, quando vi pelo lado do Zimbabwe, fiquei impressionado. Achei que ia dar empate. Porém, no conjunto, embora tenha uma queda menor, Iguaçu propicia aos visitantes um visual mais bonito e mais empolgante, pois suas passarelas chegam quase a tocar as águas. E ainda tem o lado argentino, que também ajuda.
Assim, se você não conhece as duas, vá a Foz, até porque é mais perto. Agora, se você já foi a Foz, vale a pena conhecer Victoria Falls, nem que seja só pra dizer que a nossa é melhor.

Mas pelo menos a ponte, se vê melhor daqui

Amanhã sigo bem cedo para Luzaka, a capital da Zâmbia. De lá, mando notícias.

PS- Muita gente tem mandado comentários e e-mails. Gostaria, mas não dá para responder todos. Não é descaso. È falta de tempo. Mas continuem mandando. Na solidão dessa viagem é importante saber que tem tanta gente torcendo. Obrigado a todos e vamos em frente.

Fawlty Towers


Ron, Leslie (com o cartão do Blog) e Gerdine

O Fawlty Towers, hotel onde estou em Livingstone é o preferido dos mochileiros que passam por aqui. Recomendado pelo Lonely Planet fica na via principal da cidade em frente a um pequeno shopping. Por dentro, tem um espaço interno com TV, um pequeno bar e ambientes que acabam por ser um ponto de encontro das pessoas. Mais adiante, um gramado com uma pequena piscina circundada de chalés. Muito legal.
Quando fazia o check in no hotel, também estava chegando uma holandesa chamada Gerdine, que estava voltando para casa depois de dois meses de trabalho voluntário num hospital do interior de Zâmbia. Mais tarde, pouco antes do jantar encontrei-a novamente e conversamos bastante. Ela é formanda em medicina, mora em Roterdã (tem muito marmanjo que vai querer ir lá só pra ficar doente) e é sua segunda vez na África. Já tinha andado um bocado por aqui e me deu muitas dicas, especialmente do trem que terei que pegar próxima terça. Como eu, está viajando sózinha. Pouco depois apareceram Ron e Leslie, também holandeses, mas de Amsterdã, que estão fazendo um tour de jipe de 3 semanas pela Zâmbia. Passaram por todos os parques nacionais e era o último dia deles. Também estavam pela segunda vez na África. Ron disse que gosta de Vanessa da Mata (preciso dar uma atualizada no meu repertório musical). Todos amam a África.
Antes, na cachoeira conheci o casal espanhol, de Barcelona, Juan e Beatriz. Percorreram um trecho da trilha da cachoeira comigo.  A foto, ruim, não espelha a simpatia do casal.

Anexo ao hotel, tem um bar-boate que fica bem perto do meu chalé. Ontem rolou muitos 'anos 70 e 80'. Do meu quarto, entre um cochilo e outro, ouvia a música. Quando Guns N' Roses encerrou a noite, os galos já cantavam. 'Sweet child o' mine' me deixou com saudades de casa.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Vitoria Falls


Se eu soubesse, nem tinha tomado banho hoje de manhã. Deixava para tomar com a chuva do Rio Zambeze Mas já que tinha tomado, foram dois, o segundo de água fria.
Mas voltando um pouco, quero dizer que fiz boa viagem de Harare a Vitoria Falls. Estrada boa, ônibus bom e serviço de bordo melhor que os das empresas aéreas do Brasil. Doze horas de viagem tranquilas.
Cheguei, me instalei e hoje, 8:00h me adentrei ao Parque Nacional de Vitória Falls no Zimbabwe.
Antes de continuar, uma explicação. Vitória Falls é o nome da queda d'água do Rio Zambeze. Foi dado pelo explorador inglês David Livingstone em homenagem à Rainha Vitória. A queda fica na fronteira entre Zimbabwe e Zâmbia e as respectivas cidades fronteiriças são Vitoria Falls no Zimbabwe e Livingstone na Zâmbia. Como acontece em Foz do Iguaçu que o rio cai mais na Argentina e se vê melhor no Brasil, o Rio Zambeze, que vem da África Central, despenca em Zâmbia e por isso é melhor a vista do Zimbabwe. Pelo menos é o que se diz. Amanhã, quando visitar o lado zambiano, confirmo.
Continuando, fui um dos primeiros visitantes ao entrar no parque e ao chegar no primeiro mirante realmente fiquei impressionado. Tive a mesma perplexidade que a primeira vez que fui a Foz do Iguaçu. Quando a gente vê Foz numa foto, por melhor que ela seja, não tem a dimensão da sua grandeza. Aqui acontece a mesma coisa. Esperava grandiosidade, mas me surpreendi. O Rio Zambeze despenca numa única queda de uma altura de 108 metros ao longo de 1,7 Km. Por onde andávamos, ficávamos exatamente em frente desse fantástico aguaceiro. E olha que estamos no período seco (em Harare, por exemplo já está faltando água e, na estrada até aqui havia muitas queimadas). Ainda bem. No período de cheia, dizem, não se vê nada, pela nuvem de água que vai ao ar. Mesmo com o período seco, em alguns pontos, para ter uma visão melhor da cachoeira, tinha que tomar um belo banho.

Eu, ainda bem molhado

Disse que ia dizer qual era melhor: Vitoria ou Iguaçu. Confesso que achava que Iguaçu levava fácil, mas subi no muro. Vou esperar até amanhã para o veredito final. Enquanto isso, vocês dão uma olhada nas fotos.
Mais tarde, já passando para Zâmbia, atravessei a célebre ponte sobre o cânion do rio. No meio dela uns malucos faziam bug jumping de uma altura de cerca de 100 metros. Só de olhar me dava vertigem. Coragem é aquilo.

Peguei o carinha na hora do pulo. Não sei se sobreviveu.

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A ponte sobre o Rio Zambeze

Já estou em Livingstone, hospedado no simpático Fawlty Towers, U$ 45, que tem até uma piscina e como estamos com um calor africano, acho que mais tarde vou experimentá-la
Amanhã visito o lado zambiano da queda e como ela é do lado de cá, dizem que pode levar toalha e sabonete. Como comprei uma toalha, praga do Joel, acho que vou levá-la

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Harare - Zimbabwe

Avenida de Harare. Ao fundo o imponente prédio do Banco Central. Dizem que ele tinha que ser grande pra guardar todo o dinheiro que era impresso na época da hiperinflação.


Se Maputo podia ser a capital da África, Harare, onde estou, não podia ser a de nenhum país africano. Mas é a capital do Zimbabwe. O Zimbabwe é a antiga Rodésia, país de colonização inglesa (a joia da coroa), cuja libertação de se deu por um golpe da minoria branca (3% da população), que instalou um regime racista de 1964 a 1979. Uma coalizão política liderada por Robert Mugabe, uma personalidade que chegou a rivalizar em prestígio com Nelson Mandela, assumiu o poder e ele nunca mais saiu. Recentemente cedeu a um governo de coalizão com a oposição, mas com ele a frente. Em bom português, uma ditadura mal disfarçada.
Há poucos anos o Zimbabwe sofreu um colapso econômica e bateu todos os recordes de inflação. Foi a 180.000% ao ano. Chegou e emitir uma nota de 2 bilhões de dólares (zimbabwanos, é claro). Recentemente, como forma de combater essa hiperinflação a economia foi dolarizada de maneira que aqui se paga tudo em dólar. E não tem moeda. Se tiver troco na compra do supermercado, é balinha ou chiclete.
Sempre que chego numa cidade desconhecida, e aqui todas são, rola um certo stress. Não temos exatamente para onde ir. Não sabemos se é seguro sair caminhando ou pegar um táxi a procura de um hotel. Mas aqui na África, quase sempre que cheguei em algum lugar, tive ajuda. Em Chimoio, por exemplo, onde cheguei às 21h, um jovem que veio comigo no ônibus me levou até o hotel. Aqui não foi diferente. Um rapaz que estava no ônibus, me acompanhou até chamar um táxi e negociar o preço para eu ir em segurança para o hotel.
Instalado, fui dar uma volta. Sabia que Harare era uma cidade diferente dos padrões africanos. Mas o que vi me impressionou. Largas avenidas se cruzando. Prédios imponentes e modernos, praças bem cuidadas, caros novos e até as vans mais bem cuidadas. Nas ruas, muita gente produzida, padrão ocidental. Parecia estar na Avenida Paulista. Só um probleminha, quando escureceu, a iluminação pública não acendeu. Não sei se é sempre ou se foi só ontem. Só sei que corri para o hotel.
Hoje, após um excelente café da manhã africano (estou num hotel de U$ 97), voltei para as ruas para tirar uma fotos para vocês. Vejam como é diferente de Maputo. Mas, ao sair um pouco do centro financeiro e político da cidade, onde inclusive estou hospedado, a paisagem muda bastante. Não a paisagem física, os prédios continuam modernos, mas as pessoas mais mal vestidas, muita gente desocupada, alguns mendigos. No centro da cidade tem um parque muito grande, o Harare Gardens, estilo Central Park. Fui para lá e vi centenas de homens e algumas mulheres, sentados na grama, aparentemente sem ter o que fazer. Até fiquei com medo. Saí rapidinho. Por causa dessa hiperinflação, o país ficou para trás em termos de crescimento. Muitas pessoas foram embora (tinha muito zimbabwano na África do Sul e até em Moçambique) e o desemprego é muito alto. Mas o país tem muita terra boa, infraestrutura de rodovias e ferrovias e muita riqueza natural. Vamos ver como vai ser o futuro.
Bom, Harare é bonita, diferente, mas não tem muito o que fazer. Então, segue o jogo. Amanhã, vamos para Vitória Falls. Vamos saber qual é maior ou mais bonita ou melhor: Vitória Falls ou Iguaçu Falls. Pretendia ir de trem. Levaria pelo menos um dia e meio. Mas aqui na porta do hotel tem uma empresa de ônibus que faz a viagem em 12 horas. Saí amanhã às 7 horas. Ônibus de luxo, paguei 5 dólares a mais por um assento executivo, pra não ficar amarrado na cadeira. Vamos ver. Até.

PS - Tão me pedindo mais fotos, mas com essas Internets lentas, cada foto colocada é um martírio. Mas no final, vai ter muita foto. Prometo.

De Moçambique ao Zimbabwe

                                   Fronteira entre Moçambique e Zimbabwe


Eram três da manhã e o interfone tocou. O táxi estava na porta me esperando. Só deu tempo de escovar os dentes e partimos para a 'Junta'. Tudo escuro e não foi fácil achar o ônibus (vamos chamá-lo assim, porque tem quatro rodas e carrega muitos passageiros). O motorista e os passageiros que não têm grana para pagar um táxi e, por isso, chegam bem antes, estavam todos dormindo. O cobrador, único acordado já foi avisando.
  • Tem bagagem? 200 mentecais.
Um que chegou atrás de mim com três malas, recebeu o veredito: 500 mentecais. Pronto, quebrou o pau.
Acontece que o ônibus não tinha baú embaixo para as malas. Era na base do cada um leva a sua. Só que não tinha espaço. Esses micro-ônibus normalmente tem oito fileiras para três passageiros. 24 pessoas de lotação. O nosso recebeu uma pequena adaptação. Acrescentou-se uma fileira e, no corredor, puseram mais um banco do tipo
basculante. Como junto do motorista iam mais dois indivíduos, além do cobrador que ia de pé (acho que esse era o melhor lugar), Viajamos com 40 pessoas. As bagagem, ou embaixo do banco, ou no colo. A minha mochila, porque ia pagar, foi colocada no degrau da porta. Foi pisoteada e chutada em cada parada, sem contar a minha aflição de alguém passar a mão nela.
Para ajeitar 40 onde só cabiam 25 não foi fácil. Mas com quinze minutos de atraso saímos.. O cara da minha frente botou uma mala embaixo do banco e eu não tinha onde por o pé. Eu empurrava a mala e quem não tinha onde por o pé era ele. Assim fomos. Tirando que não podia me mexer, o resto até que ia bem. O ônibus andava bem e a estrada, para minha surpresa, era muito boa. Asfalto liso e bem sinalizada. Eles não gostavam muito de paradas. A primeira, só depois de quatro horas. Nada de parar em posto de gasolina. Era numa vilinha mesmo. O ônibus era cercado por vendedores. Ao sair para fazer um xixi, tinha que ir passando pelas bagagens no corredor. Pulava umas, pisava outras, e assim ia. E o xixi? Banheiro nada. Tinha que procurar um matinho e torcer pra ninguém olhar. Mas como? Se todo mundo só olhava pra mim. Sabem quantos brancos tinha no ônibus? Na vila? Durante todo o resto da viagem até o fim dessa postagem? Um! Eu!
Bom, fiz o xixi. Mas resolvi não comer. O que menos precisava ali era um ataque de gazes, sem sequer poder por o bumbum de lado, pra soltar um pum. Vocês estão rindo porque não estavam no meu lugar.
Mas depois de umas dez horas (seriam 15 de viagem) a gente acaba acostumando. Já não sentia mais nada. Quando faltavam três horas para chegarmos vi uma placa na estrada: Chimoio 450 Km. Ou seja, mais duas horas. Chegamos quase às 21h. 17 horas de tortura. Quando desci, não conseguia andar. Depois fui ver que meu joelho com os meniscos danificados, estava quase do tamanho de futebol... de salão . Fui cambaleando até o hotel, tomei dois atiinflamatórios e ainda tinha que ir jantar. Não tinha comido nada. O peixe estava muito bom. Tomei duas cervejas. Voltei para o hotel e e resolvi exercer um dos principais direitos do homem solitário, segundo minha colega Luci: dormir sem tomar banho...
Eu deixo meu relógio no horário do Brasil. Mania besta. Pois é. Como são cinco horas de fuso, é só somar cinco no horário do relógio. Acontece que, às vezes, erro na conta. Hoje foi um dia desses. Acordei às seis, pensando que eram sete. Quando percebi, já estava de pé. Então, vamos à luta. TOMEI BANHO!, pequemo almoço (aqui é como em Portugal) e fui pegar a 'chapa' para o Zimbabwe.
Mesmo amontoamento do dia anterior, mas tudo bem. Era só uma hora. Porém, ao descer da van, na fronteira, fui cercado por, pelos menos 20 homens. Uns puxavam minha mochila, outros queriam me levar para um táxi (vinte dólares), outros queriam me levar até o posto de fronteira. Farta oferta de serviços. Não sabia o que fazer. Acho que ia entrar no táxi. Estava com medo de tomarem minha mochila. De repente, alguém veio me salvar. Uma mulher que estava na van, entrou no meio da roda e disse:
  • Come with me!
I come, com todo o respeito. A mulher me tirou da roda e saiu brigando e xingando toda aquela 'machaiada'. Me disse, numa mistura inglês-português que eles só queriam dinheiro. Como se eu não soubesse. O nome dela é Gleyce (acho que é assim), zimbabwana, me ajudou nas imigrações, e me colocou no ônibus (dessa vez escolhi um daqueles grandes) para Harare. Thank you very much.
Aí vai sua foto:


 
PS- Cheguei em Harare, capital do Zimbabwe, uma cidade surpreendente. Amanhã falo dela. Resolvi investir, eu mereço, estou num hotelzinho melhor, com wireless e tomei um super banho de banheira. Boa noite.


Paralisação no Fisco de Goiás

Daqui da África acompanho a paralisação. Força, colegas.
DATA BASE JÁ!!

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Tô na África... agora pra valer!


Se a África tivesse uma capital, ela poderia ser Maputo. A capital de Moçambique é o que imaginei que encontraria nessa viagem. Pobre, mas emergente. Caótica, mas pulsante, efervescente. Tomei um banho de povo.

Disse que a primeira ideia que tive, é que Maputo pareceria com La Paz, na Bolívia. Como cidades grandes em países pobres, elas de fato se parecem, menos por uma coisa e que o Evo não nos ouça; o povo boliviano é bem mais feio.

A primeira coisa que se percebe por aqui é o movimento nas ruas. Gente pra todo lado, comercio informal intenso. Uma marca que provavelmente vai se repetir daqui para frente é o transporte coletivo informal. As 'chapas', que respondem por quase todo o transporte, são vans, em geral muito velhas que, em compensação, custam muito barato. Menos que 50 centavos a viagem. Todavia, não tem limite de lotação. A primeira que peguei, colocaram 25 pessoas, quando a lotação é 12. Vi isso repetidas vezes Numa delas, eu estava sentado na fila da porta de entrada e a 25ª pessoa a entrar era uma jovem gordinha que foi empurrada sobre mim, ficando praticamente imobilizada, exposta a qualquer 'confiança'. Teve a sorte de eu ser respeitador. Mas também pode-se andar em alguns ônibus, táxis e as originais 'chopelas', que são lambretas transformadas em táxis. Andei de tudo.
No meu segundo dia aqui, após fazer a mudança de hotel, atualizar o Blog, etc, resolvi procurar um restaurante recomendado pelo Lonely Planet. Ao baldear de uma 'chapa', vi uma feira. Não resisti e entrei. Loucura. Tem de tudo. Até atacado funciona lá dentro. Encontrei vinho chileno mais barato que no Chile. Quando resolvi comprar uma cerveja para ir tomando no caminho, perceberam que eu era brasileiro e foi uma festa. A um dos rapazes mais falantes perguntei se ele conhecia o Brasil. Ele respondeu que conhecia Ipanema e Teresópolis. Estranho, né? Outro disse que conhecia Tubiacanga. O meu amigo Aguinaldo, lá no Rio Grande do Sul, doutor em Física, que tem um ótimo Blog sobre literatura, poderia pensar que a obra de Lima Barreto está disseminada em Moçambique. Não, meu caro Guina, ele apenas assistiu a novela da Globo (não me lembro o nome) adaptada do conto 'A Nova Califórnia'. Levou um chaveirinho do Brasil, que como já disse, faz o maior sucesso. Ainda vou falar deles.

Após um belo almoço de camarões acompanhados da 2M, a boa cerveja local, parti para a Junta, o terminal rodoviário local, para comprar a passagem para a sequência da viagem. Eu falei terminal? Um terrenão baldio abrigando todo tipo de 'jardineiras'. A mais nova devia ter a minha idade. A gente escolhe o ônibus que vai para onde queremos ir e compra o bilhete com o motorista. Vi que vou sofrer daqui para frente.

Já nessa noite, um grande jantar. Um bacalhau fantástico com muito chopp a 30 reais.

No dia seguinte, sábado, a caminho ao ponto das 'chapas', a primeira roubada. Um senhor me intercepta e pergunta:
  • Lembra de min?
Claro que não lembrava. Ele continuou.
  • Eu sou o guarda da fronteira.
De fato, quando entrei em Moçambique, um guarda veio me proibir de tirar fotos. Achei que era ele. Continuou a conversa e mais tarde disse que tinha um problema. Tinha ficado sem gasolina e estava sem dinheiro. Ia lhe dar 50 meticais mas ele falou que era pouco e pediu 200. Dei os 200 e ele pediu mais 200. Não dei e ele acabou levando os 50. Uns ambulantes que viram tudo, perguntaram porque eu tinha dado dinheiro a ele.
  • É mafioso! Você podia perder tudo.
  • Mas porque vocês não me avisaram? Agora já foi...
Bom, pelo menos foi um golpe barato. 15 reais.
Mais tarde, a recompensa. Almocei o melhor polvo de minha vida no 'O Escorpião' (acima), o mais tradicional restaurante de Maputo.

Domingo foi dia de praia. As praias aqui não são bonitas, mas são diferentes. Todo mundo vai de roupa. Não vi nenhuma mulher de biquíni ou maiô. Os homens, no máximo de bermuda. Em compensação os ambulantes vendem cerveja barata e peixe frito mais barato ainda. Ao contrário do Brasil a praia vai enchendo depois do meio dia, até lotar no meio da tarde. Mas vamos deixar para falar mais de praias em Zanzibar.

Amanhã (hoje é domingo), saio às quatro da manhã, numa viagem de 15 horas até Chimoio, ao norte perto da divisa com o Zimbabwe. Vou na jardineira abaixo. Se der, mando notícias de lá.
OBS- Já estou em Harare, capital do Zimbabwe. Depois conto cheguei aqui. Foi emocionante...

sábado, 17 de setembro de 2011

Fiquei puto em Maputo!


O trocadilho era imperdível e confesso que até torci para alguma coisa dar errado para eu usar essa expressão. E não é que deu?

Saímos de Joanesburgo logo pela manhã. Ufa! Para evitar surpresa na hora de ir embora, dei 10 paus pró ajudante do hotel me acompanhar até a Park Station. Viagem pra lá de tranquila. Nove horas em boas estradas, uma favelinha aqui, outra ali, entre algumas belas paisagens. Na fronteira onde achei que podia tomar um baculejo, nada. Uma fila pra sair, outra pra entrar e tudo bem. Nove horas depois, cinco e meia da tarde chegamos na capital de Moçambique. A periferia de Maputo é uma coisa muito feia. Muita pobreza, sujeira e feirinhas por todo lado difíceis até de olhar. Me lembrou a capital da Bolívia, La Paz. Mas a cidade até que é simpática. Voltamos ao português e, pelos letreiros nas lojas e os pastéis de Belém em cada esquina, poderíamos, sem dúvida, dizer que estamos  no ´primo pobre´, embora não falido, da ´terrinha´.

Mas o que não estava no programa era a falta de hotéis na cidade. Na chegada fui três, todos lotados. Já era noite e, no desespero, tive que morrer em U$ 130 num hotel apenas médio. Fora do meu orçamento. Na Cidade do Cabo, um da mesma categoria ficou por um terço. FIQUEI PUTO!! Só então fui descobrir que estão acontecendo em Maputo os Jogos Pan-africanos, uma espécie de olimpíada africana. A cidade está lotada. É africano gringo pra tudo que é lado.

Hoje pela manhã, consegui um mais barato. Metade do preço. Ainda assim caro. Mas, pelo menos um pouco mais suportável. Agora vou dar uma volta. Depois eu conto.

PS- Na foto estou cruzando a fronteira da África do Sul com Moçambique.

As Moças do Hotel

Parece que a minha referência `a moça do hotel da Cidade do Cabo causou um ‘frisson’ e despertou fantasias masculinas. Já disse, não vou mostra-la, mas trouxe as belas recepcionistas do Hotel Santa Cruz em Maputo. Só não venham agora as mulheres me pedir para fotografar os rapazes do turno noturno…
Pela ordem: Sônia, Iolanda, Cacilda e Hélia.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Perigo em Johannesburgo


Dizem que barata viva não atravessa galinheiro. Às vezes atravessa. Já narrei minhas peripécias na chegada a Johannesburgo. Como a cidade não tem muito interesse e quero acelerar a viagem, resolvi ficar aqui apenas um dia; o suficiente para tirar o visto de Moçambique, atualizar o Blog e visitar o Museu do Apartheid.

Saí cedo, para resolver a questão do visto. Pelo meu mapa, achei que dava para ir caminhando e assim fiz. Subi as ladeiras que contornam a Park Station, perto de onde estou hospedado e fui seguindo. Como não chegava, ia perguntando aos transeuntes e ninguém conhecia. Lá pelas tantas, perguntei a um guarda e ele me remeteu a um sr branco que mandou entrar no seu carro para me deixar mais perto do consulado. Nesse trajeto, me alertou para ter cuidado nos bairros negros, que haviam tentado assalta-lo, etc, etc. Me deixou mais perto do consulado mais ainda muito longe, de sorte que tive que andar um bocado. Chegando lá, teria que dar entrada no visto e voltar à tarde para busca-lo. Não sei se foi o jeitinho brasileiro, o meu chaveirinho que faz o maior suscesso (depois eu falo dele) ou a cor da minha pele. Mas após uma pequena espera (mais de uma hora), o visto saiu.

Para voltar, vi uns moçambicanos pegando uma van e entrei nela. Não entendi direito para onde ia (não se é pior o português dos moçambicanos ou o inglês dos sul-africanos), mas segui com eles. Lá pelas tantas reconheci um lugar pelo qual já tinha passado e desci. Não tinha tomado café da manhã de modo que resolvi almoçar num 'fast food delivery' que encontrei. Tinha 'fish and chips' (me senti em Londres) e um 'Russian qualquer coisa' que nada mais era do que 'linguiça and chips'. Preferi a segunda,... no bom sentido.

Depois fui para a Internet. Terrível, lenta, travada e ainda não lia minha postagem previamente preparada. Fui na primeira, passei para a segunda, esqueci a mochila na primeira, voltei, ufa, estava lá e, por fim, desisti. 'Chega! Vou ao Museo.' Achei que era perto e fui andando. Andando e perguntando e ninguém sabia onde era o tal museo. Num certo momento, estava no teatro da cidade, entrei e veio uma mulher muito intelectualizada me atender. Foi engraçado. Ela concordou comigo que era um museo muito importante, mas não sabia onde era. Outro funcionário sacou seu blckberry com o Google Maps, mas também não encontrou.

Bom, se eles não conhecem, ficarei eu também sem conhecer. Desisti. Resolvi ir comprar a passagem do dia seguinte para Moçambique. Nesse momento uma placa de transito me deixou petrificado: Hillbrow. Eu hospedei, andei, caminhei, internetei e fiquei quase todo o meu dia em Hillbrow.

A respeito de Hillbrow, veja o que o jornalista Fábio Zanini (Pé na África) falou: “Hillbrow. Aquele nome tinha uma carga pesadíssima. Simplesmente o lugar mais assustador de uma das cidades mais assustadoras do planeta. Tanto que dez entre dez guias de viagem alertam o turista desavisado: fique longe de Hillbrow, mesmo à luz do dia. Índice de homicídios: cem por 1000 habitantes. Dez vezes mais que o da cidade de São Paulo...”

Bom, já que tinha aguentado tudo isso, arriquei um pouco mais e fui ao Park Station para conseguir, finalmente, fazer minha postagem. De lá, procurei um supermercado, já que, como não ia poder sair à noite, queria, pelo menos tomar um vinho de despedida. Tive que ir mais longe. Na volta, uns vinte minutos de caminhada na hora do rush, no meio da multidão, resolvi contar quantos brancos eu via. Contei dois, eu e meu tênis.

Mas salvei o jantar. Vejam só:


 
PS- Já estou em Maputo - Moçambique e mando notícias em breve.