quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Khartoum, tô fora!

Mais uma de Khartoum
Fazia parte do meu roteiro inicial seguir do Sudão para o Egito por terra. Seguir pelo deserto núbio até fazer, na fronteira, a travessia de ferry e chegar a Assuã, no Egito. Uma longa viagem de, pelo menos, três dias. Mas já havia desistido dessa idéia. O ferry só sai uma vez por semana e, se atrasasse, ou mesmo se chegasse adiantado, ficaria, aí sim, no meio do nada: em uma cidade sudanesa de 15.000 habitantes, no meio do deserto, num calor de 45 graus à sombra.
Também, já estava um pouco cansado dessas maratonas rodoviárias, com saudades de casa, da família, dos amigos e, confesso, até do serviço. Assim, já em Addis, comprei uma passagem aérea de Khartoum para o Cairo, que inclusive me permitiria antecipar a chegada ao Brasil, podendo descansar um pouco antes de voltar ao batente.
Minha vontade de deixar o Sudão era grande. Foi o país onde mais tive dificuldades. Hotéis ruins, dificuldade de comunicação, de locomoção e até de alimentação. Assim, no dia de ir embora, parti cedo para o aeroporto. Imaginei ser melhor fazer hora lá, do que na cidade. Kharthoum tem mais de oito milhões de habitantes, deveria ter um aeroporto minimamente movimentado. Ledo engano. Nunca vi aeroporto mais espartano. E vazio; para se ter uma ideia, naquela manhã, haveria apenas três voos internacionais. O aeroporto não tinha nada, nem mesmo uma casa de cambio. “Nem casa de câmbio??” O que eu iria então fazer com os meus 350 pounds sudaneses que sobraram? Gastar no free shop? Que free shop? Não havia free shop. Só podia trazer de volta ao Brasil para distribuir como souvenir aos amigos.
Mas a mesma burocracia estatal que cria esses entraves, se encarrega de resolvê-los. Após preencher dois formulários e descobrir que ainda ficou faltando um. Após ver meu passaporte passar por seis (!) mãos. Juro que não sei para que esse povo quer tantas informações justamente quando eu vou embora. Para entrar foi tão fácil. Entrei até com uma garrafinha de whisky... Bom, mas aí a imigração dá a facada: “- Tax". Cento e cinquenta pounds“. Que bom, meu prejuízo seria menor. Só 200 pounds.
Após duas horas de trâmites, estava pronto para ir embora, quando o microfone anuncia que o voo vai atrasar. Tudo bem, para quem está acostumado com o Brasil, o que é um atrasinho? Atrasinho? Algum tempo depois, um funcionário da Egyptair me chama e avisa que vamos para um hotel (cinco estrelas, ressaltou) porque o avião teve problemas técnicos e não ia decolar. Talvez embarcássemos às 19:30 (eram 12). Ficou com o meu passaporte (não porque eles gostam de ficar sempre com o meu passaporte) me indicou o ônibus que nos levaria.

Nosso hotel tinha vista para o Nilo

Em matéria de problemas técnicos em aviões, sempre prefiro que eles ocorram quando ainda estamos em terra, de modo que fiquei resignado em ficar mais algumas horas no Sudão. O hotel não era aquele super five stars, mas foi, de longe, o melhor hotel da viagem. Ironicamente, o Sudão me proporcionou o pior e o melhor em termos de hospedagem.
Cheguei, fui ao quarto e tomei o primeiro banho decente em dias: de banheira. Depois o almoço. Também a melhor refeição no país. Estava aguardando o voo das 19:30, quando informaram que o jantar seria às 20h. Jantei, fui dormir; a primeira cama de primeira em muito tempo.
De repente, duas da manhã, o telefone toca. Vamos pro aeroporto! Poderiam esperar um pouco mais. Estava tão bom.
O ônibus nos levou ao aeroporto e nos enrolaram mais cinco horas, até que o avião decolou às 7:30 da manhã. Em toda a viagem, o recorde em atraso no quesito transporte, ficou com a Egyptair: 19 horas.
Mas isso agora não tem a menor importância. O importante é que:

Tô no Cairo!!

Um comentário:

  1. Gerson,

    Voce quer trocar o dinheiro Sudao por umas cedulas da Hungria? Em 1989, as "divisas" hungaras eram nao conversiveis. Resumindo voce era obrigado o comprar o dinheiro deles quando entrava no pais e ficava com o mico na saida.

    Americo

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