A capela onde está guardada a 'arca'. Esse cara na porta, deve ser o monge.
A 'Arca Perdida' está em Aksum. Não há dúvida. Dez entre dez guias turísticos da cidade afirmam com convicção. A 'Arca Perdida' é aquele baú onde Moisés guardou as pedras onde Deus escreveu os Dez Mandamentos. Dez que deveriam ser no máximo nove, pois, pelo menos o nono, está em desuso. Segundo os alfarrábios, o Rei Salomão, de olho nos atributos da Rainha de Sabá, incumbiu-a de guardar a arca. Ela então enviou-a para Aksum, que mais tarde seria governada pelo seu filho Menelik.
Isso ocorreu há uns três mil anos, não sei exatamente. Sou péssimo em datas. A única que nunca esqueço é o meu aniversario. Por sinal... Esse é outro caso.
O caso em questão é que a arca esta guardada numa pequena construção atrás da igreja de Santa Maria de Sião, esta sim a principal Igreja Ortodoxa do Mundo, destruída e reconstruída e que já foi o Vaticano da religião ortodoxa. Com a arca fica permanentemente um monge, a única pessoa que tem acesso a ela. Recentemente Israel tentou enviar cientistas para examiná-la, mas teve a permissão negada. Se eles, assim como nós, acreditam num Deus que nunca viram, podem muito bem acreditar na existência da arca sem vê-la.
Eu no sítio dos obeliscos e, ao fundo, a Catedral
Fica então provado que o filme do Indiana Jones é uma obra de ficção, já que a arca não poderia estar no Egito, pois esteve o tempo todo em Aksun. Indiana Jones teria tido muito menos problemas se estivesse vindo buscar a arca em Aksun, guardada por apenas um monge ao invés de enfrentar praticamente todo o Terceiro Reich em busca de uma arca que, afinal, não estava perdida.
Nuria, Roger, eu e Clare (o guia não serviu nem para tirar uma foto melhorzinha)
Mas a minha vida em Aksun, não foi muito fácil. Junto comigo no avião veio a francesa Clare que faz um tour de cinco semanas pela Etiópia, para desespero da mãe e do namorado. Na chegada ao hotel encontramos o casal de Barcelona Roger e Nuria. Juntos contratamos um guia e esse indivíduo quase estragou todo o passeio. Não poderia dormir na cidade pois teria que fazê-lo em Shire, de onde no dia seguinte, bem cedo, iria a Gondar. Assim, avisei ao guia que queria ver os obeliscos aksumitas, a Igreja de Sião e, naturalmente, o prédio onde fica a arca, ate as 15:30h (eram 11h). Tempo mais que suficiente. Mas o guia não queria nos mostrar os sítios. Estava interessado em agregar valores ao seu serviço. Sempre criando dificuldades para oferecer uma facilidade cara. Uma hora nos oferecia táxi para ir um lugar longe, outra hora `tuc-tuc` (lambreta táxi); para mim um transporte privado ate Shire por um preço vinte vezes maior que o que paguei depois. Enrolou muito nos obeliscos, depois levou-nos a um restaurante caro, demorado e que roubou na conta. Quando, no limite do meu tempo chegamos a Igreja, tinha encerrado o tempo de visitação. Não podia entrar, mas eu entrei. Só queria uma foto. Mas veio o guarda e queria cobrar para eu tirar a foto. Fiquei bravo e fui embora. Já tinha visto mesmo. A foto, pensei, eu pego na Internet, como fiz.
O belo par de obeliscos; o da direita foi devolvido pela Itália.
Mas a visita aos obeliscos é muito interessante. Nesta parte do norte da África, sucederam-se impérios a partir de 1.000 AC. Ora em Lalibela, ora em Aksun, ora em Gondar, essas civilizações fizeram importantes realizações e seus monumentos são impressionantes. A cidade tem mais de dois mil obeliscos, construídos em homenagem a pessoas ilustres que morreram. Três deles chamam a atenção pela beleza e grandiosidade. O primeiro, de 33 metros de altura caiu derrubado por um terremoto, mas esta ali para ser visto. Os outros dois, com mais de vinte metros de altura, formam um belo par, embora tenham sido separados pelos italianos de Mussolini que roubaram um deles e o levaram para a Itália. Recentemente, foi devolvido após muita pressão.
O obelisco derrubado por um terremoto
Em cima da hora, peguei um `tuc-tuc` e fui para o terminal pegar ônibus para Shire, de onde mandei uma curta postagem pedindo para que vocês rezassem por mim, lembram? Ainda bem que vocês rezaram bastante...
Lindíssimos monumentos!
ResponderExcluirComemore o seu dia especial saboreando as últimas vivências juntamente com um bom vinho e aquele charuto.
Feliz Aniversário Amor.
Cara, que coisas maravilhosas !! Esta parte da sua viagem me seduziu de vez - morro de vontade de conhecer esses sites arqueológicos da Etiópia e do Sudão ....
ResponderExcluirAinda irei, algum dia !
Gerson,
ResponderExcluirDuas coisas, voce esqueceu de comentar sobre a Etiópia:
- E o café? É tão bom assim? Pelo menos o nosso tupiniquim do dia a dia, eu diria que é bem ruim pois exportamos o filé e ficamos com pescoço.
- Esta mistura de Jamaica com Etiópia ou Rastafari com o Haile Selassie. Parece visão doida de quem fumou algumas...rsrsrs..
No mais parabens!!!!
Américo
Americo
ResponderExcluirO cafe nao achei la essas coisas. Um bom, foi em Zanzibar. A Tanzania tambem tem cafe. Agora, essa historia do rastafari com a Jamaica realmente precisar fumar muitas para entender.
Oi,
ResponderExcluirLembrei...Feliz Aniversário!
Beijos de bacalhau e abraços de pizza
Hoje é seu aniversário? Vou lhe presentear com a obra, O Imperador, do jornalista polonês Ryszard Kapuscinski. Ele foi correspondente na África por mais de 20 anos e fez uma radiografia completa das malandragens e tiranias do Haile Salassie I. O despotismo do Ras Tafari é relatado nos detalhes de uma biografia jornalística de alto valor historiográfico. Sanguinário e absolutamente obcecado pelo poder, o meliante imperou por 44 anos na Etiópia e foi uma das grandes bobagens da esquerda do século 20, por obra da promoção publicitária do babaca do Bob Marley, que contestava o “sistema”, mas fez as honras da conjugação de religião e poder político. Era um libertário alienado em apoio a um corrupto genocida. Li o livro há mais de dez anos e não me recordo se imperador fumava maconha. Marcio Fernandes
ResponderExcluirGerson,
ResponderExcluirAgora que você está entrado na "África moura", o que mais as separa, ou não: cultura, economia, religião...? Josué
Algo que deve ter entrado em linha de conta na construção do movimento rastafari é que a Etiópia foi talvez o único país africano que manteve sua unidade e independência através da sua história. A Itália deu uma ocupadinha mas se deu mal. Também é um país de grande tradição monoteísta, um dos primeiros países cristãos da história.
ResponderExcluirNa Jamaica voce dá uma fumadinha (produto local e tradicional) e mistura esses dois ingredientes
- orgulho 'africano', tribo ancestral, reino independente e forte,...
- cultura cristã
e acaba inventando o movimento rastafari.
O reggae e a globalização fazem o resto.
Joel