sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Pelos abismos das Montanhas Simen


Vai começar de novo...

As distâncias na Etiópia são longas. Não sabia bem porque, mas descobri do pior jeito. Havia feito dois trechos recentes de avião, para economizar tempo, mas reservei para ir de ônibus o trecho entre Aksun e Gondar, até porque li em algum lugar que a estrada era bonita.
Em Aksun, onde ia passar apenas um dia, tive a lamentável confirmação que o ônibus para Gondar saía de Shire, um povoado muito pobre distante uns 80 Km. Como ele saía às seis da manhã, não tive escolha, tive que ir dormir lá.
Em Shire, me hospedei no horrível Hotel África. Peguei o apartamento de luxo, com TV e água quente por 9 dólares. Foi caro; a TV não funcionava e a água era fria.
No dia seguinte, às cinco e meia da manhã fui para o terminal rodoviário e o que vi foi, no mínimo incomum. O terminal estava fechado, com as pessoas do lado de fora. Já, do lado de dentro, todos os ônibus e vans estavam prontos para sair. Pouco antes seis começa uma reza e, em seguida, as portas são abertas. Para alguns lugares mais concorridos foi o 'estouro da boiada'. Todo mundo entrou no terminal correndo.
O ônibus era um pouco pior do que o esperado. Não tinha espaço para as pernas e ficava espremido dos dois lados pelos outros passageiros. Mas consegui trocar de lugar com um passageiro que se sensibilizou com o meu sofrimento e passei para o assento da última fileira no corredor. Pelo menos deu para esticar um pouco as pernas.

Sintam o drama. Nosso ônibus por dentro.

Logo nos primeiros momentos da partida aconteceu o inusitado. Uma coisa que vocês esperavam, eu esperava, mas já tinha esquecido: a estrada não era pavimentada. Até aqui, só tinha andado em asfalto. Como estamos ainda na seca, era poeira por todo lado. Entenderam agora porque as distâncias na Etiópia são grandes? E assim foi: espremido, desconfortável e, se abria a janela, entrava poeira, se fechava o calor era insuportável. Na dúvida, fomos revesando entre eles.
Mas veio a boa notícia. Depois de algum tempo começamos a percorrer as Montanhas Simen. As Montanhas Simen são Patrimônio Natural da Humanidade, de rara beleza e reserva ambiental, abrigando muitas espécies animais. O ônibus então começa um 'sobe e desce' por paisagens das mais incríveis que já vi. Grandes montanhas iam sendo contornadas com abismos altíssimos. Estrada estreita e perigosa. Se o motorista bobeasse, não sobrava ninguém. Lembrei da 'Estrada da Morte', na Bolívia, que tanto marcou a vida da Márcia. Mas as paisagens compensavam o desconforto e o perigo que corríamos.
Quando da viagem de moto que fiz com amigos pela América do Sul, disse que a rodovia Pan-americana em algum trecho da fronteira entre Peru e Chile, era a estrada mais bonita que já tinha visto. Hoje não posso dizer mais a mesma coisa.
Fiquei sentido, muito sentido, de não poder tirar fotos. A situação de falta de espaço dentro do ônibus era tão gritante, que tive que embarcar minha mochila com a máquina fotográfica. Também não adiantaria tê-la comigo. Minha distância das janelas e também a sujeira nos vidros impediriam qualquer fotografia. Lamento, mas as imagens que vi, não posso mostrar para vocês. Ficaram apenas na minha memória.
Ao final de nove horas de 'rallye' pelas montanhas, chegamos a um planalto verdejante, com muitas plantações e criação de animais. Com mais três horas de viagem chegamos a Gondar. Estava em pedaços, bumbum pra lá de assado, mas faria a viagem de novo.

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