terça-feira, 11 de outubro de 2011

Mwanza – Na beira do lago Victoria


Para quem estava acostumado com cidades feias, caóticas, encardidas, por onde temos passado, Mwanza é um colírio. Às margens do Lago Victoria, nem parece que estamos na África. Mwanza tem ruas largas, que convergem para rotatórias, cada qual com um relógio, arborizadas (lembrou Goiânia), prédios modernos, enfim uma bela cidade.

Com mais de 450.000 habitantes, Mwanza é também movimentada; porto, terminal ferroviário e importante entrocamento para quem vai ao Congo, Ruanda e Uganda. É também chegada e partida da população que mora nas margens do lago. A cidade circunda o lago e nas montanhas em volta, muitos hotéis, bares e restaurantes. A cidade é também balneário. Surpreendeu.

O belo lago com os nojentos pelicanos à margem.

Esperava conseguir um transporte que atravessasse o Lago Victoria, rumo ao norte até à cidade de Port Bell, vizinha à Kampala - Uganda, de onde sexta-feira sigo para a Etiópia. Não existe transporte de passageiros que faz essa rota, mas esperava conseguir algum navio cargueiro que me levasse. Não consegui. Teria que esperar uma semana. Assim, comprei uma passagem no ferry que vai pelo lago em direção ao oeste até a cidade de Bukoba. De lá, pego o ônibus até Kampala. A desvantagem desse trajeto é que o ferry sai às nove da noite e chega às seis da manhã. Perderei a maior parte das paisagens do lago.
Já andei muito de ônibus, trem e agora vamos experimentar o barco, o último dos principais meios de transporte na África. Como o ferry sai apenas nas terças e quintas, acabei tendo um dia a mais para explorar a região. Andei pelo entorno do lago, que é muito bonito, com pedras que afloram da água, fui ao cais e andei pela cidade.
Bismark Rock, na beira do cais. Para colocar essa pedra aí deve ter dado um trabalhão.

Com o menino James.

Fui ainda visitar o original 'Bugando Hospital'. A África é um caso sério. Construíram um hospital, lindo por sinal, no alto de uma montanha. A vista e o prédio, são maravilhosos, mas para chegar lá, os doentes sofrem.

'Bugando Hospital', no alto da colina.

Ontem aconteceu uma coisa engraçada. Vou contar. Quando vim de Dar para cá, sentou ao meu lado um senhor aparentemente árabe (no Brasil denominaríamos genericamente de turco). Muito gentil, presenteou-me com bolachas numa das paradas, sugeriu um 'chicken and chips' no almoço e acabou vindo se hospedar no mesmo hotel que eu: o Lake Hotel, onde pago módicos U$20 por uma suíte. Pensou inicialmente que eu fosse europeu e ofereceu-me negócios. Quando soube que eu era brasileiro, perdeu o entusiasmo. Ontem quando fui almoçar no restaurante do hotel, encontrei-o com um outro senhor. Até tentei sentar sozinho, mas não deu para escapar: sentei na mesa dele. Aqui é engraçado. Antes de servir a comida, o garçom passa com uma bacia e água (quentinha, quase queima) para lavar as mãos. Tudo na mesa. Os dois tinham um lencinho para enxuga-las. Eu como não tinha, enxuguei na calça mesmo. Mas, terminado o almoço, o garçom trouxe o paliteiro e aí começou a faxina nos dentes. Tentei disfarçar, mas o senhor me ofereceu o paliteiro com tanta determinação que tive que segui-los no ritual. Foi o 'Palitaço'! Na África, como os africanos. Pelo menos economizei no fio dental. (A bem da verdade e em defesa dos africanos, devo dizer que essa foi a primeira vez que vi essa cena aqui, já na Europa já vi muitas vezes).
Tenho reparado que aqui, na Tanzânia, muitas mulheres cortam cabelos quase raspado, estilo Rei Pelé. Achava que era uma etnia, uma tradição tribal ou traço cultural, até porque são mulheres mais altas e magras. Fica até elegante. Na porta do hotel duas moças vendem crédito para celular. Uma delas é a Diana ('Princess' Diana, faz questão de ressaltar) e a outra Lucy, grávida do terceiro filho, nenhum marido e nenhum juízo também. Diana tem o cabelo raspado e perguntei porque. Ela respondeu: “I don't have money!”. É a etnia dos 'sem grana'.

'Princess' Diana e Lucy

Amanhã, se tudo correr como o esperado, chego em Kampala às três da tarde. Se der tempo mando notícias.

Do alto da colina, a vista do Lago Victoria

4 comentários:

  1. Nem um "turco" perdido na África se interessa por negócios no Brasil. Tamô bem mesmo!!!

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  2. ..."Os dois tinham um lencinho para enxuga-las. Eu como não tinha, enxuguei na calça mesmo."...não queria fazer esse comentário Gerson, sobre a tal da ... toalha, a toalha....

    Joel

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  3. Pô, Joel. Já comprei a toalha. Agora você que eu leve ela no almoço?

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  4. Tio, essa descrições são ótimas! A riqueza de detalhes deixa a gente com muita vontade de viajar pela Africa!

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