quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Um trem atravessa a savana africana I



Seriam três horas de espera. A estação, relativamente imponente não escondia o desgaste pela falta de manutenção. Arrisquei uma ida ao banheiro, sempre pensando ser este melhor que o do trem. Terrível, mas fiz xixi assim mesmo. Dei uma ida até a plataforma e o comboio já estava pronto, velho e mal conservado.
Ás 15:30h começou o embarque. Minha cabine, tirando os maus tratos, até que não era ruim: dois beliches com um corredor no meio e uma mesinha. A cama era firme e com a proximidade da partida, parecia que eu ia viajar sozinho. Ledo engano. Já estava espalhando minhas coisas quando, cinco minutos antes da saída, dois 'negão' (qual é o plural de negão?) entraram na cabine. Iríamos em três.

A cabine com a minha cama: até que quebra um galho

Com um minuto de atraso o trem partiu. Ótimo sinal. E até que ele andava bem. Cerca de duas horas depois a primeira parada. Em todas as paradas que o trem fez, sempre a mesma coisa ocorria: vendedores cercavam o trem vendendo comida, refrigerante, chip de celular, recarga (o que mais vende), roupas e até eletrônicos em alguns lugares.

O cerco ao trem

A minha maior diversão nessas paradas, todavia, eram as crianças. E que quantidade. Em cada parada centenas delas se aproximavam do trem para saudar os passageiros ou apenas olhar o movimento. Eu saia à janela para tentar fotografá-las. Algumas corriam quando viam a máquina, outras se aproximavam e até faziam pose. Pensei que pediriam dinheiro ou comida em troca, mas para minha surpresa e felicidade até, nenhuma pediu isso. Pediam, pasmem, canetas. No começo dei alguns chaveiros, mas a briga era tanta que parei de dar.

meninas fazendo pose...


e meninos desconfiados

Às 20h serviram o jantar: arroz com dois pedaços de carne (dura, mas gostosa) e um pouco de verdura. U$ 3, preço de PF. A partir daí, dormi, mas o movimento na cabine foi grande a noite inteira. Primeiro puseram mais um rapaz na cabine. Depois ele foi embora e entraram mais dois. Ficamos em cinco. Problema dos outros quatros, porque pra mim foi um sono só. Tava friozinho, me enrolei num cobertor e só as seis da matina acordei com crianças fazendo algazarra do lado de fora.
Tirei muitas fotos (aqui não precisava ficar escondido) até que, as onze da manhã, chegamos à fronteira. Foi uma verdadeira invasão. Além dos vendedores normais vieram os cambistas. Tinha que me desfazer do dinheiro da Zâmbia. Não havia calculado antes, mas depois de muita conta, acho que fiz uma troca razoável (para o cambista, é claro).
Quatro da tarde, exatas 24h depois da partida, chegamos a Mbeya, a maior cidade do trajeto, parada para quem vai ao Malawi e ao Lago Nyasi. Nesse ponto houve o encontro dos trens, o que vinha de Dar es Salam, com o nosso. Os dois saem no mesmo horário. Metade da jornada estava cumprida.

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