segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Luzaka e o Trem Tazara


Decididamente, Luzaka não é uma cidade atraente. Seu traçado é até interessante, lembra Goiânia. As grandes avenidas convergem para o centro. Todavia, falta paisagismo, passeio para pedestres e no centro de algumas avenidas, corre em valas, esgoto a céu aberto. Mas como, segundo dizem, todos os caminhos da Zâmbia levam a Luzaka, aqui estou.
Antes de dar um tour pela cidade tinha dois problemas a resolver. Primeiro comprar o bilhete de trem para a Tanzânia. Como o trem sai amanhã e de outra cidade, estava com medo de não conseguir lugar. Nesse caso teria que ir de ônibus e perderia uma das grandes atrações da viagem que é o Tazara Train. Em seguida teria que ir à embaixada da Tanzânia tirar o visto de entrada no país. Felizmente deu tudo certo e comprei o bilhete; fico numa cabine de 4 pessoas, todos homens, e paguei pouco mais de U$50. Uma pechincha levando-se em conta a extensão da viagem. Em seguida fui tirar o visto e o enredo é sempre o mesmo. Tem que ir de manhã, deixa o passaporte e volta à tarde para pegá-lo. Tudo por módicos U$50, cash, e como as embaixadas nunca são no centro, foram mais U$20 para o táxi. Mais caro que a passagem de trem.
Esse negócio de visto é um caso sério. O Brasil perdoou a dívida dos países africanos, mantém programas de ajuda e é um dos maiores investidores na África em geral. O Itamarati poderia pleitear o fim dessa idiotice. O pior é ter que se deparar com a burocracia. Tem que ir e voltar duas vezes na embaixada para colocar um selinho no passaporte.

Chegando na feira

Cumprida a agenda, resolvi visitar o Luzaka City Market, o maior mercado da cidade. Os mercados por aqui são imensos, caóticos, sem nenhuma estrutura de higiene ou logística e erguidos sobre terrenos baldios numa ode à informalidade. Vendem de tudo. Tudo mesmo.
Aproveitei o táxi da volta da embaixada e pedi para ficar no mercado. O taxista disse que lá era muito desordenado e me deixou noutro, muito sem gracinha. Resolvi então ir a pé.
Na medida em que vamos aproximando, o movimento vai aumentado. As ruas são tomadas de ambulantes que não tem o ponto lá dentro. Quando cheguei em uma das entradas, não consegui seguir. Um fedor, esgoto pelas vielas, pessoas desocupadas, mal encaradas. Fiquei com medo. Barra pesadíssima. Tirei uma foto e já veio um cara dizer que não podia. Esperei ele se afastar e tirei outra. Ainda andei um pouco pelas beiradas e deu pra sentir mais um pouco. E não é que as pessoas entram para fazer suas compras?

A entrada da feira; a foto não ficou boa, tive que tirar escondido

Aproveitei que estava perto e fui comprar o bilhete de ônibus para Kapiri Mposhi, cidade a 200 Km de Luzaka de onde sai o trem. Outro sufoco. Um monte de homens me cercando, cada um querendo me levar para a sua empresa. Depois de muita confusão acabei comprando uma passagem que nem sei se é a certa. Vou saber amanhã.

A Rodoviária de Luzaka

Falando em amanhã, vamos falar do trem. O ferrovia Zâmbia-Tanzânia é um dos marcos da África e chega a ser chamado de transiberiana africana. É uma linha férrea de 1870 Km, que inclusive atravessa o Parque Nacional de Selous, um dos ambientes mais preservados da África e que tem animais em abundância. Foi construída no início da década de 80 pela China; não a atual, mas a de Mao Tse Tung, já que na ocasião os dois países tinham governos de orientação maoista. Ninguém explica por que ela foi construída a partir da cidadezinha de Kapiri Mposhi e não de Luzaka, mas o destino final é Dar es Salam, a capital da Tanzânia.
Serão 48 horas de viagem, se não houver atrasos, o que é comum. O trem partirá às 16:00h (onze no Brasil) e chega na quinta-feira nesse horário (espero). Até lá fico sem dar notícias, mas quando voltar, terei muitas novidades. Me aguardem... Sentirei saudades de vocês.

9 comentários:

  1. oh abençoado véio, tudo bem, estou muito contente por estar fazendo um tour diferente e interessante.

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  2. Gerson, estamos aqui, sentadinhos no nosso sofá. Acabo de ler este post em voz alta, a pedido da Tereza. Estamos aqui comentando que você êh o nosso ídolo. Eu, quando crescer, quero ser você.

    Grande abraço, boa viagem !

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  3. Muito bons de ler os seus relatos, assim a gente vai viajando um pouquinho também. Alguma hora você tá pensando em desviar da rota pra ver o lado mais rural, aglomerações menos populosas e quiçá mais acolhedoras?

    Abração,

    Joel

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  4. NÓS TAMBÉM VAMOS SENTIR MUITAS SAUDADES SUAS!!! FICAREMOS ÁVIDOS POR SABER DAS NOVIDADES...DOS BICHOS QUE VC VIU...DOS ATRASOS FATAIS!!! DAS SUAS..."48 HORAS DE LE MANS"!!! RRRSS... ENTÃO...BOA VIAGEM, NA VIAGEM!!!

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  5. Boa viagem, tio! Guarda bem as malas e tenta descansar um pouco!

    Espero notícias! :)

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  6. Gerson, voce estará com tres homens na cabine do trem, Oh! Oh! Oh!, vai ser dificil te defender.

    Mauricio

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  7. Gabriela Vitorino de Sousa29 de setembro de 2011 às 11:22

    oi, Gerson!!! espero que esteja tirando muuuuuuuuuuiiitas fotos!!! o seu blog está o máximo!! da a sensação de que estamos indo junto com vc"!!! abração!!!

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  8. Amigos Gostaria de agradecer cada comentario, cada sugestao, mas o tempo e a Internet lenta impede. Obrigado a todos. Nivaldo, vc nao cresce mais. Joel, ja estou morrendo de saudades do Brasil e vc quer que eu desvie a rota? Fica pra proxima. Gabriela,obrigado. Vc e um amor. E esse anonimo,pelas expressoes, acho que e minha filha muito amada, a Joyce. Fiquei feliz.

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  9. Muito boa noite, assistindo um documentário no futura com Luiz, entre fronteiras mi deparei com essa longa ferrovia, e agora vendo seu site resolvi tomar parte pois gosto muito de ferrovias e desconhecia a existência desta na África, mas outro dia falamos mais, gente demais por aqueles lugares vendo a reportagem até mais, Tenha uma boa noite Gerson Bosco..

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