quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Tô em Joannesburgo


Minha intenção era fazer a Rota Jardim, um caminho de aproximadamente 600Km que segue o litoral sul-africano em direção ao norte. Levaria pelo menos dois dias. Como atrasei dois dias na chegada, resolvi pular essa parte, até porque é um passeio romântico. Melhor fazer a dois em outra ocasião. Restou um dilema: para chegar em Moçambique, podia ir para Durban, uma cidade praina ao norte ou para a capital. Venceu a praticidade. O ônibus para Johanesburgo sairia às 11h (eram oito) e levaria apenas 19h.Ou seja às 6h da manhã do dia seguinte (hoje), estaria lá. Bom, teria o dia para tirar o visto de Moçambique e ainda poderia visitar o Museu do Apartheid. Para Durban só tinha ônibus às 16h e a viagem era mais longa.
Quem está acostumado com o Brasil e suas rodoviárias e aeroportos cheios de gente, estranha um pouco isso aqui. Pelos dois aeroportos que passei, os principais daqui, tudo muito tranquilo. Tudo bem, resultado da Copa de 2010, quando foram ampliados. Mas as rodoviárias vazias? Tudo bem que aqui se anda mais de trem, mas de Cape Towm a Johannesburgo as duas principais cidades da África do Sul, uma com 3 e outra com 5 milhões de habitantes, havia apenas dois horários de trem por dia e pouquíssimos de ônibus. Parece que o povo aqui não viaja muito.

Viagem tranquila. Longa, muitas paradas por conta da manutenção da estrada e apenas três para lanche e xixi. Chegamos às 5:30 da manhã, tudo o que eu não queria. Explico, Johanesburgo é uma das cidades mais violenta do mundo. Assaltos aqui, especialmente junto à 'Park Station', são comuns e chegar com o dia ainda escuro não estava nos meus planos, especialmente porque, aparentemente eu deveria ser o único branco num raio de quilometros. Lamentei chegar mais cedo. Mas a estação estava cheia e resolvi entrar para esperar o dia clarear.

Dentro da estação, olhando para os lados vendo se encontrava alguma coisa, fui abordado por um senhor, muito solícito perguntando se eu precisava de ajuda. Ao dizer que procurava um hotel ele se ofereceu para me indicar um. Ainda estava escuro, mas o cara me pareceu legal. Saímos, eu carregando as duas mochilas e ele jogando conversa fora. Disse que trabalhava para o governo australiano e eu ouvindo e andando e era subida e o hotel não chegava. Umas dez quadras depois ele me aponta um super five stars hotel. Moral da história, voltei sózinho no escuro carregando duas mochilas numa das cidades mais violentas do mundo. Pelo menos agora era descida.

De volta à estação, fui ao serviço de informações, que para minha surpresa abria às 6 da matina. Legal. Lá estava uma rapaz novo, branco, olhos verdes, que logo veio puxar assunto. Era sul-africano e estava indo para Bloemfontein. Bloemfontein é uma cidade universitária, que ficou mundialmente famosa, anos atrás, por causa da divulgação de um vídeo onde estudantes brancos maltratavam funcionários negros da Universidade. Até pensei que o rapaz fosse estudadnte, mas não era. Se informou no balcão e disse que faltava dinheiro para comprar sua passagem. Me pediu 30 rands. Se fosse um negão a gente mandava andar, não é? Toda hora alguém me pede ajuda e eu nem ligo. Mas o rapaz loiro de olhos verdes, levou o dinheiro. Tudo bem, eram só uns oito reais. Mas até pra isso, a cor ajuda. Mas logo depois o rapaz me procurou com um senhor que iria me levar até o hotel. Pelo menos me ajudou.

E aqui estou. Acomodado num hotelzinho até mais ou menos, cinquenta reais, pertinho da estação. Só tem um defeito. Não tem toalha. Será que foi praga do Joel? Quem quiser entender, leia os comentários da 'Mochila Pronta'.

2 comentários:

  1. Ola Gerson,

    A sua viagem, com sua peripecias sozinho, so me lembra minha estada na Europa em 1990 (60 dias - sozinho). Visitei alguns paises da antiga "cortina de ferro", logos apos a queda do muro de Berlim.

    Em Berlim, por exemplo, confudi-me no metro de la e perdi meu trem que sairia bem tarde na noite. Ja estava me preparando para usar meu saco de dormir e deitar em algum canto da estacao, quando uma mulher ja cinquentona condeou-se da minha situacao e ofereceu um quarto na sua casa (pago, e claro). Fiquei meio desconfiado, mas topei o negocio. Ja na casa dela, em um determinado momento ela comecou a acariciar meus cabelos. Ai pensei, serei comido!!! Besteira, por alguma razao eu lembrava o filho prodigo, dai o singelo carinho.

    Vivendo e aprendendo !!!!!
    Americo

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  2. Ah.....a maldade humana!!! Mas vc suscita este sentimento! Chérie...

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